Lobo Antunes emociona-se com memórias de África


Falar da Guerra Colonial é um tema que dói a António Lobo Antunes. Numa entrevista concedida à Lusa, a propósito dos 50 anos do início da Guerra do Ultramar, o escritor português abre o seu coração, uma das coisas que ele melhor sabe fazer. Reproduzimos aqui alguns excertos dessa conversa.

- «Eu só comecei a ganhar o meu respeito em África. Porque tinha vergonha de mim».

- «Lembro-me vagamente de um discurso de Salazar. Julgo que, na altura, tomei por boa a explicação de uma revolta de bandidos e de canalhas que estavam fazendo coisas cruéis e horríveis em África e portanto o governo português mandava para lá uma força pacificadora, quase de polícia, para resolver o problema».

- «Acho que me portei bem em África».

- «Consegui uma coisa que é muito rara e que é um dos meus orgulhos, que é o respeito dos meus soldados. Eram garotos de 20 anos. Eles só amam quem respeitam. Encontramo-nos todos os anos e a maneira como eles me tratam comove-me sempre. Se eu me tivesse portado mal, eles desprezavam-me». 

«- Eu só tenho a dizer bem do Exército português. Os nossos oficiais, os que conheci, que eram poucos, portaram-se com imensa dignidade. Por paradoxal que possa parecer, tive orgulho de estar ao lado daqueles homens».

- «Um dos meus oficiais, que morreu há relativamente pouco tempo num acidente brutal de automóvel, estava um dia numa bomba de gasolina e um carro passou-lhe à frente e ele foi de imediato ao porta-luvas buscar a pistola. Um homem doce. Mas a primeira reação emocional dele foi imediata. Era muito difícil elaborar estas emoções. Havia como que uma regressão e voltávamos àquele estado».
 
- «É uma pena mas ainda não se fez o grande livro sobre a guerra. Tem que ser muito mais que um romance, tem que ser um documento e não é para mim. Terá que ser feito com olhos mais frios e ser feito falando com aquelas pessoas. Com os soldados, não com os chefes».

Comentários

Anónimo disse…
Sempre em cima do «teu» ALA :)

Beijocas.

S