Carta aberta a Cavaco

Reina cá no burgo financiado uma vida irreal. Um discurso do imaginário. Nem com a ajuda externa, a classe política portuguesa percebeu que tem de ser responsável, que tem de mudar, definitivamente, de atitude. A campanha eleitoral está órfã de responsabilidade, de gente com visão e coerência. Mas os interesses políticos continuam à tona, esquecendo as veias partidárias.Dito isto, e depois de tantas críticas por parte de tantos portugueses, feitas ao Presidente da República, ora pelos silêncios, ora por falar demais nas redes sociais, a verdade é que, desde a demissão do Governo até ao acordo firmado entre a troika e o Governo, Cavaco esteve globalmente bem. Goste-se ou não, a função de um Presidente é agir com os restantes actores nos bastidores e não em público. Mas esta semana o Presidente cometeu um erro de principiante que pensávamos que nunca viria de tal personalidade. Cavaco vem elogiar, ainda que de forma discreta, a medida proposta pelo PSD em relação à taxa social única. Bem sabemos que o mentor de tal medida inscrita no programa eleitoral laranja veio pela mão de Catroga, cavaquista leal. Mas o Presidente não pode ter dois pesos e duas medidas, sob pena de se tornar, aqui sim, desigual perante o sistema político. Ora se um Presidente não comenta a acção dos partidos nem se envolve em campanhas, fica-lhe mal fazê-lo apenas em relação ao PSD. Bem sabemos que Passos Coelho precisa de uma ajuda. O problema é que ela não pode vir, descaradamente e assumidamente, de Belém. Cavaco desiludiu, no cargo das suas funções. Estamos em segundo mandato. E nem mesmo em Belém a tradição deixa de ser o que era. Nem no estado a que o País chegou. Sr. Presidente, a partir de agora, ponha os discursos moralistas na gaveta. Não os queremos para nada.

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