Portugal - onde ser louco continua a ser uma tradição

Vivemos num país em que mais de 70% da população vive em dificuldades que se agudizarão nos próximos anos. Em que a maioria das famílias, de classe média (se é que ela ainda existe) tem os filhos nas escolas públicas. Chocou-me ver a Associação de Estabelecimentos do Ensino Particular e Cooperativo pedir ao Ministério da Educação mais apoio financeiro para as famílias que queiram manter os seus filhos em colégios privados. Esses mesmos colégios que vivem das famílias que podem pagar fortunas pelo ensino dos filhos. Que têm motorista particular para levar os filhos à escola. Com a veia liberal que temos no elenco que manda no país, não há de facto melhor altura para o Ensino Particular pedir apoios aos ricos. Eu sempre andei em escolas públicas. Desde o Básico à Faculdade. Nunca tive apoios do Estado para estudar nem para me alimentar. Os meus pais, homem e mulher humildes e trabalhadores da classe média, nunca viram um cêntimo sequer do Estado para a educação dos filhos. Muitos sacrifícios fizeram para me educarem o melhor que sabiam. E estes idiotas, que não sabem o que é uma dificuldade, pedem meios para ajudar os meninos que nasceram numa manjedoura sorvedoura de ouro? Mais uma prova de que este país continua a viver num paraíso e a sonhar com mundos que não existem.

Comentários

carlos disse…
Ana, estou muito, muito, muito de acordo com a tua análise.
Essa atitude dos colégios reflecte um determinado olhar das classes mais favorecidas, isoladas nas suas torres de marfim, ignorantes da pobreza que existe em redor e - às vezes - até considerando a pobreza como uma fatalidade histórica, que não lhes diz respeito.
Agora, a parte do chato: é também verdade que os abonos de família que o Estado sempre concedeu a quem tem filhos sempre foram reduzidos, mas eram mais do que um cêntimo. Compreendo e partilho a tua indignação. Acredito absolutamente nos sacrifícios que os teus pais fizeram para te dar uma excelente educação, de que devem estar orgulhosos.
Correndo o risco de me achares ridículo, devo, por uma questão de rigor, referir que os teus pais terão recebido todos os meses qualquer ninharia como 500 escudos ou assim, respectiva ao abono de família dos filhos, até que estes concluissem os seus estudos. E os mais ricos, com filhos em colégios, também o recebiam.
Sou chato, não sou Ana?
Mas só faço isto porque gosto tanto dos teus textos e gosto tanto deste em particular, que quero que ele seja ainda mais perfeito. E - claro - se não gostasse de ti nem sequer dizia nada. ;)
Beijokas grandes!

PS - Algumas famílias abastadas com meninos em colégios conseguiam ainda, mercê de recursos e de conhecimentos nos corredores ministeriais, que o Estado lhes resarcisse o valor dos impostos que pagavam para a educação pública dos filhos, alegando que a escolaridade era obrigatória e estes frequentavam um colégio privado e sem custos para o Estado. Há uns 15 anos atrás escrevi uma notícia sobre isso. Ou seja, aquele "cheque-ensino" de que falava o Portas já existe há décadas, para as famílias que conseguiam furar os labirintos da burocracia ministerial.
Ana Clara disse…
Carlos, não és nada chato! Em tudo o que disseste, em nada foi diferente! Provavelmente, o agregado familiar do meu pai - tenho quase a certeza, mas não quero deixar de ser rigorosa - não reunia os rendimentos suficientes mas sempre, sempre os serviços sociais escolares negaram apoio de alimentação, livros, abonos... a mim e ao meu irmão. Então na Faculdade foi um escândalo. Só havia um ordenado lá em casa para três adultos, e nunca tive uma bolsa sequer. A única bolsa que tive na vida foi unicamente por ter sido a melhor aluna. Ou seja, por mérito, por dedicação, apenas.E, a meu lado, tinha colegas com bolsas de 500 euros por mês, de famílias com rendimentos muito superiores, e cujos agregados familiares declaravam o ordenado mínimo. Isto é revoltante. Mas isto é apenas um caso em milhares, que não contam para os senhores que decidem quem merece o quê.
Nunca tive nada de borla, nem cunhas nem de graça neste país. Tudo o que sou a mim o devo e aos meus pais (sem eles não seria o que sou). Mas hoje, aos 29 anos, já nada me surpreende. Sei que as dificuldades se resolverão. Sei que não conto com nada exterior a mim. Do Estado, nada espero. Nem conto com ele. Porque dele também nunca nada tive. Beijinho e desculpa as palavras e frases sem sentido, mas apenas emotivas.
Anónimo disse…
Duas ou tres coisas que sei sobre o assunto!
Faz alguns anos em que trabalhei numa empresa,em que o patrão,tinha filhos de várias mulheres,e no caso que quero trazer aqui é o seguinte.Ele envolveu com uma senhora que o pai era do governo do Cavaco(era tabu se falar disto,e o pouco que sabiamos era um dos filhos que trabalhava connosco,revoltado com o pai que nos contava)E dessa ligação nasceu uma filha,e não quero estar a errar mas o colegio onde a menina estudava era um ali para os olivais(que por acaso é onde o chefe do gang dos PNR,S é professor)Este meu patrão fugia aos impostos,metia no IRS,os pagamentos das despesas com a filha,e as finanças só o apanharam porque foi a mãe da menina que o denunciou.Todos os assuntos para tratar sobre a menina era o avò o (tal do governo)que reunia com o meu patrão em sala de hotel,com advogados dum lado e doutro,são estes colégios que precisam de ajudas dos governos?
Outra situação,que tbm tive conhecimento,esta é sobre as bolsas,em que a pessoa que tinha a bolsa,deu os dados como vivia com o pai(separado da mãe)pai trabalhava por contra doutrem,mas a realidade é que ele vivia com a mãe,que era comerciante e tinha negocios,e assim se vai alegremente enganando o estado!

PS.Estes casos foram reais,e se passaram mais ou menos 16/18 anos