Missão Impossível em Belém. Calar o Presidente.
A 23 de Janeiro de 2011, Cavaco Silva era reeleito para um segundo mandato no Palácio de Belém. Faz hoje um ano. E o político – que nunca quis ser considerado como tal – entre conflitos provocados pela governança que o acompanharam e outros por si despoletados -, lá viu o eleitorado conceder-lhe a renovação da histórica reeleição presidencial no campo do centro-direita em Portugal. Mas, se a frieza, o calculismo e temperamento de quem sabe que os cidadãos sempre olharam para si como um homem racional, ditaram a reeleição – após a coabitação difícil com os governos de José Sócrates –, a verdade é que a obsessão no cumprimento das suas responsabilidades, tem levado Cavaco a transfigurar-se e até a parecer um ‘tontinho’ à deriva num país também ele à procura de um rumo. Indubitavelmente, as polémicas declarações da semana passada sobre os parcos 10 mil euros mensais que recebe, fruto das suas reformas, marcam decisivamente a passagem deste primeiro ano de segundo mandato. E pelas piores razões. O político hábil deixou de o ser…completados seis anos em Belém. Com as críticas conhecidas que provêm da sociedade portuguesa, Cavaco nunca deixou, porém, de manter a sensatez que sempre o caracterizou. Todavia, a asneira que proferiu na semana passada – a maior de que há memória desde que chegou a Belém – mancham o percurso do homem que há 30 anos tem sabido gerir, inteligentemente, a imagem do tecnocrata não-político. Goste-se ou não. Esperemos que a réstia de bom senso que lhe sobra, lhe permitam completar o mandato até ao fim. E que, em Belém, as campainhas da assessoria já tenham soado. É preciso manter o Presidente calado. Afinal, o homem que odeia a comunicação social, deve estar, por estas horas, a pensar que, tal como todos os outros políticos, tomba sempre aos pés da dita cuja. O Homem que sempre impôs limites aos outros e que se irritava sempre que estes eram ultrapassados, acabou por ser vítima de si próprio. Ultrapassou os limites do respeito institucional, político e social. Talvez um dos milhares de idosos deste país - que ganham 200 euros/mês em reformas (ou menos) - lhe possam explicar o limite da decência humana.
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