O caso das pressões. Com Relvas ao barulho.
O caso das pressões
exercidas pelo ministro Miguel Relvas a uma jornalista do jornal Público, a
propósito do seu alegado envolvimento no caso das «Secretas», mais não é que a prova do
espírito controleiro que caracteriza o ministro dos Assuntos Parlamentares e
que detém também a tutela da Comunicação Social. Quem, como eu,
conhece Miguel Relvas há anos, sabe o seu valor político mas conhece também as
suas fraquezas. E se há mérito que este ministro tem é o de conseguir, quase
sempre com sucesso, manipular e influenciar jornalistas que congrega à sua
volta. O problema é que os homens da propaganda de qualquer regime
também cometem deslizes. No caso, Relvas foi longe demais, esquecendo-se que já
não é só um mero deputado e que passa pelos pingos da chuva sem ser descoberto. Bastou um telefonema para o Público, com ameaças à jornalista
em causa e ao próprio jornal, para, e bem, o Conselho de Redacção denunciar o
caso, já que a tal notícia que tanto incomodava Miguel Relvas acabou por não
ser publicada pela editora de Política. Ridículo é ver Relvas a desmentir a pressão mas, em seguida,
vir pedir desculpas à Jornalista ameaçada. A mão esquerda de Relvas traiu a
direita e colocou a nu o verdadeiro
espírito de controlo do n.º 2 de Pedro Passos Coelho. Mas deixou também bem claro a promíscua relação que Miguel
Relvas sempre manteve com alguns jornalistas. A tentativa de controlo dos vários governos sobre os meios de
comunicação social não é nova. Todos eles, uns mais que outros, sempre caíram
nessa tentação. Mas isto claramente devia ter um custo político. A demissão de
Miguel Relvas obviamente que se exige por todas as razões tal como se exige o
direito à liberdade de informar e de questionar. Relvas tinha o direito de
estar calado. Mas não conseguiu, simplesmente porque se enforcou na corda mais
podre que o caracteriza. Miguel Relvas não se demitiu. Pedro Passos Coelho não o vai
demitir. E infelizmente os jornalistas manietados por Relvas continuam por aí,
sempre dispostos a fazer favores a um homem que construiu relações muito consolidadas
e perigosas, na última década, com muitos jornalistas. Os favores pagam-se e homens como Miguel Relvas se esquecem
disso.
Nota: Pela primeira vez publico um texto que foi também crónica na Rádio Antena Livre, onde tenho um espaço de opinião todas as segundas-feiras, no Jornal do Meio Dia. Publico hoje, por a mesma ter sido emitida ontem, e porque não tenho outra maneira de comentar o caso.
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