Saúde. Um bem (público) em vias de extinção.
A reportagem da Conceição Queiroz, transmitida hoje, no Jornal das 8 da TVI, sobre o Serviço Nacional de Saúde é muito mais que um retrato do martírio que é hoje, para muitos portugueses, o acesso aos cuidados hospitalares. De Bragança a Beja são centenas de quilómetros. Mas os problemas, sobretudo dos mais idosos, são os mesmos. Com reformas baixas, doenças crónicas galopantes em alguns casos e sem transporte gratuito, muitos dos nossos velhos vão esperando, a cada amanhecer, pela sobrevivência de mais um dia. Esta é uma reportagem que vai muito além dos problemas que resultaram das exigências do Memorando que impôs cortes atrás de cortes no sector. A Saúde Pública Portuguesa está mais magra no seu investimento, mas são os cidadãos que pagam cara a factura do despesismo de décadas de má gestão do Estado. A solidão também lá está. Em vilas e aldeias que se sucedem neste país, vive-se mal, ainda se trabalha de sol a sol e a dureza está inscrita nos rostos e mãos de gente que nunca soube fazer mais nada na vida a não ser tirar o sustento da terra. Como diz António Arnaut, os políticos que dirigem o país a partir do Terreiro do Paço - e os que lhes antecederam - não conhecem este Portugal. Nunca puseram os pés na realidade que está hoje mais renascida que nunca, e verdadeiramente ao nível dos anos 70. Os cadeirões dos salões dos hospitais privados - a que sempre recorreram - são mais fáceis de povoar que os fantasmas que não são deles. Muitos deles, sabemo-lo, nunca puseram os pés numa unidade de saúde pública. Muitos deles não sabem sequer o que é percorrer centenas de quilómetros para chegar a um auxílio médico. Mas quem conhece o país sabe que é assim há muito tempo. Agora, o problema agudiza-se porque os cortes retiraram o pouco de dignidade que muitos ainda tinham. «Não tratem os pobres como esmola. Tratem-nos como eles merecem, como cidadãos». Arnaut conhece, tal como eu, muitos destes homens e mulheres. É pena que muitos deles morram à mercê de um Estado cego e a mando das tropas invasoras.
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