RTP. O que temos.
É curioso ver como um país inteiro se revoltou, em dois dias,
contra as declarações de um senhor que…nem sequer integra o Governo de Portugal.
Palavras incendiárias de um senhor que é apenas conselheiro do Executivo para
as privatizações.
António Borges, economista, próximo do PSD e até há pouco
tempo, responsável pelo departamento europeu do
Fundo Monetário Internacional, anunciou
na semana passada, que a RTP2 poderá
encerrar de vez e que o Governo entregará a
exploração dos restantes canais da RTP a um operador privado.
O sr. Borges que ganha do erário público, pago por todos nós,
garante que o Governo vai poupar dinheiro com o negócio, só não explica porque é
que se vai manter a taxa audiovisual na factura da electricidade, mesmo depois
da privatização.
O sr. Borges é, a propósito, um verdadeiro homem de venda de
sonhos envenenados. Vende-os sem haver um comprador assumindo-se,
autonomamente, como porta-voz de um Governo que parece tremer com o processo.
Se o caso RTP é verdadeiramente importante para o país, o
Primeiro-Ministro devia colocar o sr. Borges na lista dos despedimentos a pôr
em prática.
Não quero com isto dizer que o assunto da privatização, ou da
concessão é assim tão simples. Sempre defendi que um Estado de direito deve ter
um serviço público de televisão. Mas não como o conhecemos, mas sim um serviço
público auto-sustentável, racional e que possa competir, dentro de alguns
limites, com outros concorrentes.
Os que acham que um canal de televisão do Estado tem apenas
por objectivo servir publicamente os cidadãos sem correr atrás do lucro, estão
muito enganados. Por isso, como aconteceu nas últimas décadas, contribui apenas
para um modelo despesista e que sai bem caro aos contribuintes.
É possível um Estado de direito deter um canal de televisão e
pô-lo a dar lucro. Se o modelo público até aqui não serviu esse fim então que
se tente o modelo privado.
E aqui reside o problema. Para já, e ao que se sabe, o
capital disposto a gerir a RTP no futuro vem de Angola. Nada disto teria de mal
se os investidores em causa não tivessem sobre eles uma suspeita terrível sobre
a proveniência do seu dinheiro. Corrupto, dizem uns. No mínimo, suspeito, dizem
outros.
A colonização de Luanda por Lisboa não é coisa
nova. Há anos que Angola comprou bancos portugueses com fortes posições em
bolsa e empresas estratégicas da comunicação social portuguesa.
Quanto à RTP2, os que sempre a defenderam
quando se coloca em causa a sua continuidade são, no mínimo, demagógicos. Se os
grandes defensores da 2 são assim tantos porque nunca reflectiram sobre o
desastre da grelha de audiências? Os portugueses merecem o que têm, e ficarão
sem o segundo canal, porque nunca lhe deram o sucesso em forma de share. E isso
custou dinheiro. Muito dinheiro, por sinal. Agora, no mínimo, exige-se silêncio
pelo que nunca se fez pelo canal. A começar por nós, telespectadores.
Por fim, só se pede uma coisa: que o Governo assuma, de forma
firme, o processo RTP, com ou sem Miguel Relvas, o ministro responsável pela
tutela.
Mas, por favor, sem António Borges, o maior erro de casting
de Pedro Passos Coelho em matéria de aconselhamento.
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