Para que servem as Universidades de Verão?


As chamadas Universidades de Verão dos partidos políticos em Portugal rejuvenescem cada vez mais em tempo de crise aguda. 
Na semana passada, o PSD, que assinalou em 2012, o décimo aniversário da sua Universidade de Verão, levou a Castelo de Vide os pesos-pesados do partido e até um ex-ministro do PS, Luís Amado. 
Já o PS, em Évora, viu o seu líder, António José Seguro trazer de novo para o palco da reentré socialista, a Universidade de Verão que José Sócrates mandou para o lixo quando este venceu as eleições internas em 2004.
O conceito destes fóruns pretende mobilizar os jovens formandos aspirantes a políticos e formadores de diversos quadrantes. Mas que servem, na verdade, estas universidades?
Em primeiro lugar, a imagem que os partidos tendem a passar é a de fomentar nos jovens militantes das juventudes partidárias a tal paixão pela política. Porém, há, paralelamente, um modelo de recrutamento ancorado nas jotas e que impede, ao mesmo tempo, a entrada de cidadãos independentes, com percursos cívicos e profissionais reconhecidos, nas estruturas partidárias.
A realidade é, todavia, outra. As Universidades de Verão em Portugal tornaram-se num espectáculo mediático degradante em que os principais protagonistas – os tais jovens – ficam relegados para um plano secundário. As televisões tem aqui sempre o sumo necessário para colmatar a sede dos pobres alinhamentos da silly season. São directos atrás de directos que dizem nada; são correrias loucas atrás de oradores que simplesmente não falam; são constantes alterações de temáticas provocadas pelos próprio media.
Este ano o grande assunto foi o caso RTP. Relatar esta espécie de academia partidária é que parece ser mentira. E mesmo quando são autorizadas as imagens das intervenções em sala de formação, é demasiado frequente assistir-se à interpretação da actualidade, dos casos, da crise, das polémicas, ao invés do estudo dos fundamentos ideológicos, das questões éticas, dos sistemas, das políticas, dos modelos e das técnicas. 
No fundo, tanto PSD e PS, querem passar a ideia de que as Universidades de Verão são modelos exemplares de formação académica. Nos programas distribuídos aos jotas aspirantes a políticos, é comum a recomendação de clássicos como Aristóteles, Platão ou Marx. Mas o que ambos os partidos fazem é, simplesmente, desvirtuar o conceito.
O palco, esse, é o da promoção das mensagens políticas da actualidade, de vincadas posições do poder instituído, no caso do PSD, ou do contra poder do momento, no caso, o PS.
Toda esta academia política das rentrées partidárias termina sempre com os discursos dos seus líderes, numa espécie de cereja podre em cima de um bolo que já passou de prazo.
Tal como dizia Aristóteles, meus senhores, «a única verdade é a realidade».
E a realidade fica sempre bem patente nas Universidades de Verão. Fóruns que deviam ser de formação e discussão importantes para os jovens mas que servem apenas para servir os interesses dos políticos do momento.
A comunicação social é apenas a única que lhes interessa. O resto? O resto são pormenores. E aqui reside a perda de uma oportunidade de ouro para provocar mudanças cruciais na forma como se faz política em Portugal.
Perdem os jovens, perdem os partidos, mas, acima de tudo, perdemos nós, cidadãos e eleitores, que merecíamos quadros de governância à moda antiga.

Este texto foi também a minha crónica da Rádio Antena Livre desta segunda-feira. Em 89.7 (Abrantes). E aqui fica reproduzido, agora em texto.

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