Portugal - a crise política mais perigosa da democracia.



Já ninguém tem dúvidas de que estamos em crise política. E a mais perigosa da história que a Democracia tem para contar. Pedro Passos Coelho conseguiu, em seis dias, a proeza que preservou, de forma ímpar, no último ano. Uma proeza irresponsável e que pode colocar em causa o futuro do país. O último pacote de medidas de austeridade anunciado há uma semana, depois da quinta avaliação da Troika ao Programa de Ajustamento Financeiro nacional, foi divulgado ao país sem a mínima noção da sua gravidade. Durante um ano, o Governo, conseguiu manter – a custo e controladamente - a coesão social, o diálogo e a compreensão em sede de concertação social e, de forma transversal, à medida que ia cumprindo o Memorando, teve sempre uma margem de dúvida de todos os portugueses e sector a sector. Com críticas, com protestos e manifestações. E mesmo apesar disso, todos, de forma mais ou menos unânime, tínhamos noção de que precisamos sair do estado calamitoso em que nos encontramos.
Mas a violência que a quinta avaliação trouxe prova que a Política é a maior inimiga dos seus executores, os mesmos foram eleitos pelos cidadãos para servir a causa pública. E estamos perante um dilema, a eminência de uma crise política que nos pode custar ainda um preço mais alto do que este. Ninguém consegue entender como é que o «bom aluno», que toda a Europa deu como exemplo, em comparação com a Grécia, não pode ser aliviado quando está a cumprir o texto acordado.
Mas o mais grave – que todos já sabemos depois do anúncio de Pedro Passos Coelho sobre a descida da Taxa Social Única e restantes medidas – é perceber que temos um Governo à deriva, que transformou uma política dura, difícil e exigente, numa brincadeira que os meus sobrinhos nunca ousariam, lá de baixo dos seus sete e dois anos, fazer. E fê-lo sem ouvir ninguém. Fê-lo isolado, mesmo dentro do próprio Governo. Paulo Portas, já percebemos, teve de dar «luz verde» formal às decisões tomadas no gabinete de Vítor Gaspar. Mas claramente, quem o conhece, e pelo silêncio que tem demonstrado, não concorda com este último pacote de medidas de austeridade. Acredito, como já disse, que não irá provocar a crise política. Portas prefere passar por mentiroso e falso D. Sebastião das promessas que fez ao seu eleitorado do que ser ele o responsável por afundar ainda mais o país. Mas ele é também cúmplice do erro que agora se cometeu. Porque tudo isto podia ter sido evitado, se tivesse havido negociação implacável com a Troika.
Do lado do maior partido da Oposição, temos a nulidade de um líder fraco, sem ideias, com uma herança pesada que o «socratismo» deixou no Largo do Rato. António José Seguro sabia ao que ia. É um líder de transição, como sempre o afirmei. Mas podia desmistificar essa convicção tentando mudar a ideia que todos temos dele. Ainda com o problema de estar amarrado a um memorando que não assinou, tem obviamente a responsabilidade de o cumprir. Não pode ir muito mais além do chumbo do OE/2013. E para os senhores do Largo do Rato que agora se levantam indignados contra este duríssimo ataque social, tenho apenas uma coisa para lhes dizer: tenham vergonha na cara. Tal como o PSD, o PS contribuiu na mesma medida para o pântano que o seu querido líder António Guterres um dia percebeu que já existiu. Mas 2001 foi há 11 anos e as memórias socialistas são curtas sempre que dá jeito. Mas não se preocupem porque na São Caetano à Lapa o cenário de juiz em causa própria também não é melhor.
Perante o vazio de lideranças políticas – que não é de hoje – que existe no País (e nem me vou dar ao trabalho de falar no Bloco de Esquerda nem no PCP, porque esses, só um louco pode achar que nos salvaria da pocilga em que estamos), só há uma forma de evitar a crise política que está aí. Essa solução está em Belém quando à mesa do Presidente chegar o Orçamento. E se Cavaco tem ainda um pingo de vergonha e respeito pelo seu passado político – que mal ou bem (mais mal que bem) tem – só pode fazer uma coisa: enviar o documento direitinho para o Tribunal Constitucional. E já agora usar a sua magistratura activa, de influência, ou como lhe queira chamar, para convencer os juízes do TC a vetá-lo. E para que não se esqueça, sr. Presidente, recordo o que disse na tomada de posse deste segundo mandato onde ainda ninguém deu por si: «Os portugueses não são uma estatística abstracta (…) há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos (…) não podemos correr o risco de optar por políticas públicas baseadas no instinto».
Entretanto o país começa a gritar em uníssono, nas ruas, a fúria que acumulou durante o último ano. Platonismo apoia essa indignação. Com sensatez, com decência e com dignidade pelas conquistas dos 900 séculos de História que fizemos. Um conselho apenas de quem, como eu, não percebe nada disto: não se iludam, não se deixem instrumentalizar pela força sindical nem partidária. Não se esqueçam que os partidos e os sindicatos são, grosso modo, provenientes da mesma barriga de aluguer que vos alimenta a esperança. E a esperança, acredito eu, vem da consciência de cada um, dos homens e das mulheres livres, que sabem pensar, em primeiro lugar, por si próprios. Platonismo garante que mantém a esperança, mas cada vez menos tolerante com aqueles que, afinal, acabam de provar que estão a colocar em perigo o futuro de um país que sempre achou que os outros fariam o seu trabalho por si. E não nos prometam mais nada porque a felicidade deste povo está cada vez mais fora das fronteiras. E a de Platonismo também.

Comentários

João Pico disse…
Desde quando é que Cavaco não é juiz em causa própria?!
A reforma do estado não vem já do seu tempo?! Os aumentos de funcionários em mais de 200 mil não surgiram nos seus governos?
Não foi ele quem iniciou a 1ª PPP com a Lusoponte, ( detentora das receitas da Ponte Salazar) onde está hoje o seu ex-ministro das Obras Públicas, o Engº Mecânico, Joaquim Ferreira do Amaral?

Se o défice continuava a derrapar, quem era o português lúcido e sóbrio que não percebia que vinha aí "aperto dos grandes"?!

Passos Coelho em seis dias é que deu cabo disto?
Quando Paulo Portas escreveu aos militantes que não queria mais aumento dos impostos já sabia do despacho do TC que dava aquela sentença em causa própria ( os juízes também sofriam dos cortes dos subsídios!!!). Paulo Portas não foi prudente. Pode convir-lhe fazer passar a ideia de que é contra o aumento dos impostos, mas não há meio de mostrar o que tem valido, a sua diplomacia económica, pois do Brasil nem vinho nem azeite lá entram... E o Relvas até parece ter maior aceitação na Câmara do Comércio brasileiro...

Não há dinheiro para pagar a mais professores. Não há dinheiro para bizarrias, nem para arrufos de milionários falidos...
Eo petróleo de Alcobaça ainda demora, se alguma vez chegar a aparecer...

Mensagens populares