A factura de Portas.
Paulo Portas assinou a sua
sentença de morte política. Nunca acreditei nesta realidade até agora porque só
ficaria convencida quando realmente visse o líder do CDS-PP a sair de cena.
Mas a verdade é que, depois
do silêncio prolongado, foi um Paulo Portas irreconhecível aquele que vimos no
final da semana passada no Conselho Nacional do partido.
Há muito que os conselheiros
nacionais queriam a reunião partidária para confrontar o líder de sempre.
Muitos estão descontentes com a linha do actual Governo e, sobretudo, com o
papel miserabilista a que Pedro Passos Coelho remeteu o CDS na actual coligação
governamental.
Tom baixo, sem garra,
comprometido e com sentido subserviente. Assim se viu o Paulo das setes vidas no
confronto interno com os seus conselheiros. As explicações em relação ao mais
negro orçamento da história democrática e aos sacrifícios impostos aos
portugueses chegaram ao Largo do Caldas. E diga-se que são, no mínimo,
ridículas.
Portas sabe que se deixou
colocar num beco sem saída. Numa situação difícil. E, agora que percebeu que
tal está a fazer mossa na imagem do partido, decidiu deixar recados a Passos.
Recados, de fora para dentro. Diz o líder do CDS que a voz do partido «não foi suficientemente ouvida» e que no Orçamento de
2014 a situação não se vai repetir». São explicações inexplicáveis.
No próximo
Orçamento, meu caro Paulo Portas, o senhor já está fora do jogo
político-partidário.
Paulo Portas, líder do
partido dos contribuintes, dos desfavorecidos, dos mais pobres, militares e afins,
morreu. Morreu politicamente. E já não há mais nenhuma vida à sua espera nas
feiras e mercados deste país numa qualquer campanha eleitoral, e, muito menos, haverá
espaço para si numa qualquer coligação.
Em plena campanha eleitoral para as legislativas
de 2009, há uma frase que José Sócrates atirou a Paulo Portas num debate televisivo
entre os dois. Uma frase que parece fazer todo o sentido na hora da morte
política de um homem que já gastou todas as oportunidades.
Dizia o então primeiro-ministro para Paulo
Portas: «Há um filme que se chama "Sei o que fizeste no Verão
passado". Também sei o que o senhor fez no Governo passado».
Não se pode estar em dois lados ao mesmo tempo.
Esta é a factura que o futuro trará a Portas. E talvez chegue mais depressa do que
todos nós pensamos.
Crónica de 17 de Dezembro na Antena Livre, 89.7, Abrantes.
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