A pidesca «Operação Outono» que assassinou Humberto Delgado.
«Operação Outono». Um sucesso da PIDE que levou ao
assassinato de Humberto Delgado em Fevereiro de 1965. Baseado em factos
verídicos revelados na 'Biografia de Humberto Delgado, o general sem medo', do
neto Frederico Delgado Rosa, o filme retrata impecavelmente a forma como a
polícia política orquestrou, preparou e executou uma acção que acabaria por
matar o General e a sua secretária, a brasileira Arajaryr Campos. Momento de ouro, a cena
que mostra o resumo do 25 de Abril e pós revolução com banda sonora da senha ‘E
depois do adeus’, de Paulo de Carvalho. Imagens inéditas que eu nunca tinha
visto…
Destaco o papel brilhante do actor Carlos Santos que
encarna Rosa Casaco, o inspector da PIDE que matou Humberto Delgado em nome do
regime. Obviamente que retratar um assassinato como este num filme de cem minutos
é tarefa impossível. Mas a trapalhada política e judicial que foi este caso da
História política nacional está lá. No livro de Frederico Delgado Rosa [que li há dois anos] é defendida precisamente a tese de que Humberto
Delgado não foi atingido a tiro, mas vítima de espancamento, ao contrário do acórdão
final do Tribunal de Santa Clara, que julgou os implicados no caso já depois do
25 de Abril. E esta é, no fundo, a verdadeira novidade na trama, para
muitos ainda desconhecida, apesar de ser conhecida há quatro anos.
Nos cinemas em Portugal desde o final de Novembro, é triste
ver uma sala vazia onde o protagonista maior é apenas e só alguém que combateu
o Estado Novo sem contemplações. Quando entrei, não estava ninguém na sala.
Apenas eu e a pessoa que me acompanhava. Cinco minutos depois entra um outro
jornalista. Acho que ilustra bem o sentimento que me atravessou o corpo e a
alma. E assim vai o cinema português bem como o interesse de um povo que não
conhece – nem quer conhecer - a sua história. Porque a memória da gravidade do Estado Novo, pelo menos enquanto por cá andar, não será esquecida.
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