Uma semana politicamente...platónica.
A semana passada foi
fértil em acontecimentos políticos. Desde a aprovação do Orçamento do Estado, à
entrevista oca do Primeiro-Ministro à TVI, passando pelo congresso do PCP, pelo
1 de Dezembro e acabando na aparição de Guterres na vida política do país. Comecemos pelo
Orçamento. Claramente, depois de aprovado no Parlamento, a radicalização do
discurso do governo e da maioria atingiu um novo patamar. Ou o Orçamento ou o
caos. Ou o Orçamento ou a saída do euro. Ou o Orçamento ou a tragédia. A tirada
mais forte saiu mesmo do ministro das Finanças que fez questão de lembrar que
«ou a crise é gerida pelo sistema político, ou o sistema político é debilitado
pela crise».
Mas apesar disso,
Vítor Gaspar assume riscos e incertezas, sobretudo nos quatro mil milhões que é
preciso cortar no Estado social.
E no que respeita ao
Estado social, um dos seus maiores defensores reapareceu esta semana na vida
pública nacional. Falo de António Guterres. O antigo primeiro-ministro assumiu
a sua responsabilidade no estado caótico das finanças públicas. É um Humanista,
é um homem bom e é o primeiro a reconhecer que, tal como os outros que ocuparam
a cadeira de São Bento, tem culpas no cartório.
Por seu turno, o
actual inquilino de Belém e todos os outros ex-primeiros-ministros jamais, até
hoje, admitiram o mesmo e com idêntica coerência.
Do congresso do PCP
deste fim-de-semana, tivemos a reeleição esperada de Jerónimo de Sousa. Um
partido que se mantém fiel aos princípios ideológicos, que acompanha a rua e
ganha força em tempos de crise, como todas as forças posicionadas sempre mais
longe do centro. Realço a homenagem merecida ao líder histórico Álvaro Cunhal
que, se fosse vivo, completaria 100 anos em 2013.
2013 é precisamente o
ano em que já não haverá feriado de 1 de Dezembro. Este ano foi já uma espécie
de ano zero. Nunca foi um feriado comemorado emotivamente pelos portugueses. O
curioso é que deixámos de comemorar oficialmente a Restauração da Independência
de 1640 precisamente no momento em que voltámos a perder essa mesma
independência a par da soberania nacional.
Da entrevista do Primeiro-Ministro à TVI, a certeza de que o
futuro que nos espera em 2013 e anos seguintes é muito sombrio. Onde cortar é a
palavra de ordem, sobretudo no Estado social já em decadência.
Uma decadência patente nas notícias que nos afligem. E
infelizmente é com uma terrível notícia que termino esta crónica. Soubemos há
poucos dias que já há em Portugal crianças doentes a darem entrada nalguns
hospitais por uma única razão. E qual é? Fome. Nos mesmos hospitais começam a
ser cada vez mais os casais, desempregados que abandonam os seus filhos,
recém-nascidos, e os deixam nas maternidades por falta de condições económicas.
Como o Natal está à porta e 2013 também deixo uma pergunta ao
sr. Primeiro-Ministro: como é capaz de ver diariamente o seu país a morrer e
continuar cego, apenas concentrado nas leis da senhora Merkel e no carril de
uma Troika insensata que perdoa a gregos mas não desculpa troianos? Era bom
pensar nisto e rapidamente e antes de a situação social se tornar
demasiadamente explosiva.
Crónica de 3 de Dezembro, Antena Livre, 89.7, Abrantes.
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