Relvas. Uma questão de liberdade e democracia.



Ainda bem que não assisti, nem acompanhei, o que se passou hoje no ISCTE com Miguel Relvas. Não há muito por dizer. O País já todo viu a cena. Estamos a empobrecer com a política de austeridade, com a fabricação de profissionais qualificados a custo zero e sem ética, como obviamente, é o caso do ministro em causa. Mas a democracia, a liberdade e a livre expressão de pensamento e opinião não se coaduna com o comportamento e a forma como hoje muitos estudantes indignados se manifestaram. Não é assim que se luta contra o poder nem contra as políticas erradas. Não posso apoiar manifestações nem lutas deste género. E lamento que o futuro do meu país esteja entregue a jovens que agem com o coração e não com a razão. O desespero, bem o sei, leva a actos irracionais. Mas não é a irracionalidade que muda as mentalidades. Pela primeira vez na vida, estou do lado do cidadão Relvas, do homem livre, na sua condição de lusitano, que não pode manifestar o seu pensamento num local público e numa academia do saber e da liberdade. Insultem-me. Cá estou para voltar a dizer que não é assim que se combate nas trincheiras das ideias e da mudança. 

Comentários

Anónimo disse…
Discordo. Acho que isto só lá vai mesmo, com um governo de mão pesada, que vasculhe tudo o que se passou nos últimos 40 anos neste país. É imperativo alterar a Constituição para aumentar as penas de prisão, e mudar leis para terminar com o regabofe que é a falta de condenações por crimes de colarinho branco, de preferência prisão perpétua para cima, para quem o fez e para toda a família (tal e qual como os Távoras).

Já são milhares de pessoas que ficaram sem emprego, sem casa, sem dignidade, algumas com problemas psicológicos, e até outras que se suícidaram. Aos responsáveis disto tudo, minha amiga, prisão perpétua é pouco! Um homem que forjou a sua licenciatura, que andou a enganar meio mundo para chegar onde chegou, ganhar os milhares que ganha e ainda dar de ganhar aos amigos, enquanto grande parte dos licenciados (que fizeram um curso de 3 ou 5 anos, INTEGRALMENTE!!!) está no desemprego ou tem trabalho percário! É piada de mau gosto a minha senhora dizer que estamos perante um GOVERNANTE (e não um cidadão, por muito que você queira pensar o contrário), livre de exprimir os seus pensamentos! Ou você também lhe interessa o que o larápio da zona J pensa? Se lhe interessa, calo-me já aqui, porque a diferença entre os dois é que um veste fato de camisa e gravata e outro veste fato de treino.
Anónimo disse…
Trabalho precário. Peço desculpa pelo engano.
Anónimo disse…
Relvas foi convidado para ir falar sobre um tema. Foi convidado. Se alguém da zona J fosse convidado para ir falar a uma universidade a perplexidade com que assistiria a pessoas da nossa geração a manifestarem-se era a mesma, garanto-lhe.
Partilho da mesma decepção perante o estado de Portugal, e preocupa-me onde é que vamos parar, mas a verdade é que não é boicotando o governo que o país melhora. Há problemas estruturais, há temas profundos a enfrentar.

Se queremos que alguma coisa mude temos de o fazer bem feito. Não é fazendo barulho, nem dando visibilidade a ruído que só dá em mais ruído. Isto deturpa os problemas e põe o ênfase no que é menos relevante neste momento. Há desemprego, há injustiça social, há privilegiados e privilégios de minorias… Que ideias temos para resolver isto? Que propostas existem?

Preocupa-me ver um grupo de estudantes universitários a gritar durante tanto tempo. Ganhamos o que? Algum deles entregou ao Relvas propostas de alternativa às politicas seguidas?
Em que país queremos viver daqui a 10 anos?

Se o objetivo deste universitários é chamar à atenção. Boa! Conseguiram. Se é para construir um país mais sólido e do qual nos orgulhamos que venham as propostas, as ideias, as contrapropostas, as soluções. Mas que venham.
Anónimo disse…
Concordo com um pouco de todos os comentários.

Relvas representa o "contorno" do sistema. Obviamente, já se devia ter demitido ou ser demitido.

Sociedade Portuguesa ainda não é muito aberta e isso incomoda-me bastante.

Há uma cultura de "Yes Man" dominante.

A comunicação social não me parece ser suficientemente independente.

O estado do país é claramente culpa de uma ausência de estratégia a nível económico.

O debate político esquerda direita para mim é um não debate muitas vezes porque não se concentra no essencial que é: "Como é que podemos crescer económicamente garantindo de alguma forma que todos podemos ficar melhor de uma forma justa?"

Para chegarmos a um ambiente de maior coesão e integridade política há que dialogar mais, esclarecer mais.

O combate à corrupção, favorecimento de interesses especiais, funcionamento do sistema jurídico, sustentabilidade do estado social, melhor educação, etc. deviam ser bandeiras deste País e de todos os portugueses.

Um abraço
João Cruz
Ana Clara disse…
Obrigada a todos pelos contributos. Que o País saiba ter a inteligência necessária para, colectivamente, sair de onde estamos.