Francisco José Viegas. A espinha dorsal que não se tem.



Esta semana apetecia-me falar do caso da semana, protagonizado por Miguel Sousa Tavares que, numa entrevista ao Jornal de Negócios, chamou palhaço ao Presidente da República. Mas como já tudo foi dito, desde os comentários mais absurdos às piadas menos engraçadas, esta semana vou falar de outra figura que me tem causado urticária sempre que ligo a televisão, compro um jornal ou ligo a rádio. Falo de Francisco José Viegas, antigo secretário de Estado da Cultura do actual Governo. O escritor, escolhido e convidado por Pedro Passos Coelho para a pasta no início do mandato, tem uma espinha dorsal pouco recomendável e chateia-me ver pessoas como Viegas, que aprendi a respeitar, darem o dito por não dito, e sobretudo perceber que enquanto prestou vassalagem a Passos esteve sempre caladinho, subjugado ao poder que hoje, fora do circuito, critica como se nunca por lá tivesse passado. Este fim-de-semana, no Festival Literatura em Viagem, em Matosinhos, Francisco José Viegas, andou por lá a fazer o diagnóstico dos últimos 40 anos do País e fartou-se de apontar o dedo às elites, dizendo que se alguma coisa falhou não foi o país, foram as elites. É pena que Francisco José Viegas abra agora a boca por tudo e por nada para criticar o Governo do qual fez parte. Enquanto exerceu o cargo de secretário de Estado aceitou tudo, desde cortes globais na Cultura, desde submissões pacóvias ao Primeiro-Ministro e sempre em silêncio, sem contestar, sem sequer pensar nos cidadãos e naqueles que fazem ainda girar o circuito cultural em Portugal. Tinha muito respeito por Viegas, tinha-o como um homem inteligente, como alguém que não cede perante a cegueira, pensava que era um homem de princípios mas afinal o escritor que muito respeitava mostrou que é apenas um papagaio igual aqueles que hoje critica. Os homens de barba rija provam que o são nos momentos certos e nos lugares mais difíceis. E, Francisco José Viegas mostrou apenas ser um servo de ocasião num determinado tempo da sua vida em que aceitou vergar-se ao poder de forma gratuita e amnésica. Fica-lhe agora muito mal criticar o sistema do qual fez parte de livre e espontânea vontade. Ficou pelo menos desnudado o lado mais negro do Homem, do Homem que eu julgava que colocava a ética e os valores à frente dos caciques do sistema. E assim se desfaz um mito e um exemplo, pelo menos na minha cabeça.

*Crónica de 27 de Maio, Antena Livre, 89.7, Abrantes.

Comentários

Anónimo disse…
Sistema de que fez parte? FJV é desde sempre o sistema em todo o seu esplendor. Se calhar também aprecia o Rui de Carvalho, eterno promotor da cangalhada toda e outro que só se zanga quando lhe toca a ele.