A decisão inesperada.


Nunca fui defensora de Governos com «mão» presidencial. Não é esse o espírito do nosso sistema político. Contudo, e não é a primeira vez que o digo, depois de uma semana de brincadeiras dos responsáveis que nos governam. Por mais incompetência, por mais inexperiência ou meramente por jogo partidário e tácticas eleitorais, a verdade é que o espectáculo protagonizado por Paulo Portas & Companhia foi, na minha opinião, o mais grave da história democrática. Pela passividade presidencial, estava já convencida de que o Presidente da República, aceitasse a proposta que Pedro Passos Coelho lhe levou na semana passada. Ainda assim, porque considero que não é tempo para brincadeiras, tinha uma leve esperança que alguém, no meio de tudo isto, colocasse ordem na casa. O anúncio de Cavaco tem sido interpretado por muitos como uma mera jogada de poder onde é beneficiado o PSD e onde o PS fica sem margem para mais. Errado. O PS pode muito bem recusar, como já disse, a alternativa. Por mais que eu gostasse que o consenso político fosse uma realidade, numa coisa eu concordo com António José Seguro: ainda vivemos em democracia e ele tem toda a legitimidade para recusar integrar um Governo sem ir a votos. Não há político nenhum que aceite participar num envolvimento governamental sem saber quanto vale nas urnas. Contudo, também sei o quanto Cavaco Silva odeia soluções de iniciativa presidencial. E estou certa de que se o momento fosse outro utilizaria a tal «bomba atómica». É que quem acha que Cavaco está a fazer isto para se vingar de Portas - o seu grande ódio de estimação - desengane-se. Se assim fosse, seria muito mais fácil dissolver o Parlamento e mandar Portas para o lugar de onde nunca devia ter saído. Seja como for, Portas foi entalado à mesma, já que seria uma falta de vergonha total aceitar continuar num Governo do qual se demitiu de forma «irrevogável».

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