A justa homenagem a Honório Novo.
No exercício da política são muitos os combates que se travam em
várias arenas. A Assembleia da República é um dos desses palcos maiores e que,
da esquerda à direita, ninguém abdica. Esta semana quero homenagear neste espaço de opinião um homem que
soube travar batalhas ideológicas, partidárias e políticas de forma digna. Algo
que poucos, nos tempos que correm, podem orgulhar-se. Falo de Honório Novo que, aos 62 anos, abandona o Parlamento em
definitivo. Foram 19 anos dedicados às lides em hemiciclo, 14 dos quais na
Assembleia da República e cinco no Parlamento Europeu. Conhecido pelo povo português
pela forma arrojada com que sempre abordou os seus adversários políticos,
Honório Novo representa a última esperança para as gerações que o sucedem, não
só pela forma como sempre esteva na política mas também pelo carisma com que
defendia as causas que abraçou. Talvez por isso, na hora da despedida, todas as bancadas
parlamentares, da esquerda à direita, tenham reconhecido que a casa da
democracia nacional perde um homem como poucos. Honório Novo, deputado do PCP, fica na história da política portuguesa
por ter levado até à exaustão questões que a todos os cidadãos dizem respeito,
sobretudo em matéria económica e fiscal. Questionava, como poucos, os ministros
das Finanças e da Economia de qualquer Governo. No caso BPN, à semelhança do
agora eurodeputado Nuno Melo, não se cansou de perguntar, questionar e deixar
muitas vezes governantes sem resposta. É isto que se pede a um deputado, eleito por todos nós: que vigie
Governos, que salvaguarde direitos constitucionais, enfim, que não se esqueça de
que é o povo, o principal protagonista de todas as lutas político-partidárias. Todos sabemos que assim não é, e talvez por isso, Honório Novo seja
mesmo um dos últimos guardiões dos interesses da sociedade portuguesa votante. Na semana passada,
no discurso de despedida, garantiu, com o humor que sempre o caracterizou, que
vai «andar por aí, mas do lado certo, seguramente», numa alusão à ideia
expressa por Pedro Santana Lopes quando este perdeu as eleições para José
Sócrates. Oficialmente é na
próxima quarta-feira que Honório Novo deixa de desempenhar as funções de
deputado. Simbolicamente, Honório Novo nunca deixará de povoar as memórias
daqueles que também por ele foram marcados. A Política precisa de mais
homens como ele. Tristemente sabemos que não existem. Infelizmente sabemos que
as gerações dos homens bons nestas andanças estão perdidas e com muitas
dificuldades de se encontrarem. Haja esperança.
*Crónica de 29 de Julho, Antena Livre, 89.7, Abrantes.
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