Aguarda-se o desfecho que está nas mãos do cadáver.



Na passada sexta-feira um amigo e fiel ouvinte destas crónicas semanais na Antena Livre pedia-me que não abordasse a situação política do País. Tentei fazê-lo e abstrair-me da loucura que desceu a Portugal na passada semana. Contudo, não fui capaz. Não consigo ver o meu País a arder e ficar calada. Os factos já todos, infelizmente, os conhecem. E o desfecho também. O que nos resta, enquanto povo e cidadãos delapidados, é duro, muito duro: um segundo resgate a caminho, mas medidas de austeridade e tudo decidido por uma cambada de gente incompetente e sem carácter. Paulo Portas brincou com as vidas de 10 milhões de pessoas. Custou ao país mais de dois mil milhões de euros, fez tremer novamente os mercados e aterrorizou os investidores que, ainda que devagarinho, lá vão comprando dívida pública portuguesa. Durante a novela vimos um Primeiro-Ministro completamente submisso e, claro, um Presidente que está mais morto que vivo. A brincadeira, que ainda hoje me parece um pesadelo, terminou em grande para o animal político do Largo do Caldas. Portas conseguiu despachar Álvaro Santos Pereira, ascender a vice-primeiro-ministro, liderar a coordenação das políticas económicas, o relacionamento com a troika e ficar responsável pela reforma do Estado. Para o líder de um partido que vale 10 por cento das urnas, que comanda o partido minoritário do Governo, digamos que Portas foi tudo menos a montanha que pariu um rato. Entretanto, ninguém fez nada para o parar. Ninguém. Nem Cavaco, nem Pedro Passos Coelho, nem o próprio CDS que devia ter mais juízo que o louco do seu líder. Os homens de palavra não precisam tornar pública uma carta de demissão. E, acima de tudo, os homens de carácter não voltam atrás quando garantem que as suas decisões são irrevogáveis. Aconteça o que acontecer este é agora um Governo que perdeu toda a legitimidade eleitoral para governar, está minado por todos os lados e a sua queda é apenas uma questão de tempo. A única e triste certeza que temos é que o futuro será ainda mais negro e agora tudo se torna mais difícil sobretudo para as nossas vidas que irão ser ainda mais dificultadas. Resta saber quantos portugueses sobreviverão a este Inferno para o qual nos conduziram. E resta saber se Cavaco, que recebe os partidos esta semana, validará esta solução ridícula que Passos Coelho lhe entregou. Aguardemos, então, o desfecho do cadáver que reside no Palácio de Belém.


Crónica de 8 de Julho, Antena Livre, 89.7, Abrantes.

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