Portas. O [verdadeiro] primeiro-ministro de Portugal.


8 de Novembro de 2007. José Sócrates era primeiro-ministro. Neste mês em particular lembro-me melhor do que nunca de Paulo Portas defender acerrimamente o seu CDS, o partido que se auto-intitulava, à época, como o partido do contribuinte. Ora, se há coisa que a mim não me falha é a memória política. Estamos em Setembro de 2013 e tudo quanto Portas soube fazer nos últimos dois anos, desde que chegou ao Governo, foi viabilizar subida de impostos, rebentar com as famílias e ajudar a aumentar a fileira dos desempregados. Tudo bandeiras que, com Sócrates em São Bento, o CDS defendia com unhas e dentes. Este fim-de-semana, do alto do seu arrogante estatuto de vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, agarrando-se aos ténues sinais de recuperação económica, veio dizer que estes são dados que «devem ser compreendidos e protegidos». Estes sinais meu caro Paulo, de que pode haver crescimento, redução do desemprego, de que as exportações continuam a crescer, de que o investimento na agricultura está num bom nível, e de que a produção industrial revelou algumas melhorias, não passam disso mesmo. De meros sinais. Se Paulo Portas tivesse um pingo de vergonha ficaria em silêncio, tal como se remeteu nos primeiros anos deste Governo enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros. Porque na hora de aplicar a receita da Troika, afinal o CDS já não quis saber do contribuinte, já não se importou com os 900 mil desempregados oficiais e muito menos com o brutal aumento de impostos. Numa coisa, Portas tem razão, quando diz que a economia bateu no fundo por causa do resgate. Mas um dia, quando se escrever o seu legado, a sua assinatura lá estará, agregada ao poder do qual nunca abdicou. Até mesmo em prol do seu estimado eleitorado. No fundo, depois da palhaçada que Paulo Portas protagonizou em Julho passado, numa espécie de filme de terror com laivos de birra de infância, a verdade é que o líder centrista conseguiu o que queria: ser o verdadeiro primeiro ministro do país. E o mais triste é saber que as urnas não o legitimaram e que tal só acontece porque Pedro Passos Coelho é um líder fraco: de espírito e de tarimba política. É penoso ver que quem negoceia em Bruxelas, Frankfurt e Washington com os homens da Troika é um Homem chamado Paulo Portas. É certo que o atrelado Maria Luís Albuquerque, com estatuto de ministra das Finanças forçado, também lá está. Mas a imagem e a forma como Paulo Portas chegou onde chegou é arrepiante e demasiado perigosa para ser verdadeira. Enquanto isso, o povo, o país e a sociedade assobiam para o lado. Há muito com que nos entretermos, há autárquicas à porta e esse fandango é que interessa. Se o povo é quem mais ordena, ou ordena depressa e bem ou ficará refém para sempre das maquiavélicas estratégias de poder e interesses partidários dos seus queridos governantes.

*Crónica semanal de 9 de Setembro, Antena Livre, 89.7, Abrantes. 

P.S. - A foto é de 2 de Junho de 20121 em Montemor-o-Novo, na campanha para as legislativas. Achei-a apropriada para ilustrar a crónica...

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