Síria. O massacre aqui à nossa frente.
A decisão do Presidente dos Estados
Unidos em atacar o Síria foi conhecida este fim-de-semana. O assunto traz-nos à
memória o triste passado do Iraque. Em causa, e de novo, as armas químicas. Sabemos
que a Primavera Árabe tem sido tudo menos uma Primavera. E sabemos também que a
urgência em fazer alguma coisa contra o regime de Assad é cada vez mais
necessária. O ataque com armas químicas da semana passada, que provocou quase
1500 mortos, dos quais mais de 500 eram crianças, não pode, de facto, ficar
impune por parte da comunidade internacional, sob pena de poder voltar a
dizimar civis inocentes. E é sempre assim numa guerra de culto, numa qualquer
guerra religiosa ou num qualquer conflito em que em primeiro lugar nunca estão
os civis. A revolta começou pacífica, mas o Mundo está cansado da repressão que
transformou a revolta da paz numa guerra civil. 4,5 milhões de sírios estão
deslocados, 1,9 milhões passaram as fronteiras. E o número mais negro, de
acordo com dados das Nações Unidas, é o que dá conta de mais de 93 mil pessoas,
incluindo 6.500 crianças, que morreram desde o início da guerra civil na Síria,
em Março de 2011. A guerra regional adensa-se, mas claramente estamos já na
fase em que a guerra mundial de palavras, entre a Rússia e os Estados Unidos,
está completamente assumida. O Governo de Moscovo enviou há poucos dias um
carregamento de mísseis S-300, equipamento sofisticado de defesa antiaérea,
para «prevenir uma intervenção externa». E isto diz muito do problema de
décadas que afecta esta região do Médio Oriente. Seja como for, ONU, Estados
Unidos ou Europa, de forma concertada ou unilateral, é bom que alguém faça
qualquer coisa e depressa. As imagens, os vídeos e os relatos de ataques
diários indiscriminados são cada vez mais insuportáveis. E, ao contrários dos
arautos anti-americanos, que defendem a autodeterminação dos povos, o direito à
existência política e religiosa deixa de existir a partir do momento em que um
dos lados da guerra mata inocentes de forma vil e mesquinha. Porque atacar
inocentes com recurso a armas químicas é dos golpes mais baixos a que podemos
assistir neste século XXI.
*Crónica semanal de 2 de Setembro, Antena Livre, 89.7, Abrantes.
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