Lá se foi a ética republicana!
«Um país é feito de símbolos e datas como o 1º
de Dezembro ou o 5 de Outubro fazem parte da nossa identidade. Nem Salazar se
atreveu a tocar no 5 de Outubro. Trata-se também de uma medida contra um
direito que o povo português conquistou, que é o direito ao lazer, o direito a
gozar os seus feriados. Nós não somos escravos». A frase foi proferida em Dezembro de 2011 por Manuel
Alegre. O medo do deputado-poeta sempre foi também o meu. O medo de deixar cair
no esquecimento datas simbólicas, partes integrantes da nossa História e que
nos caracterizam enquanto povo. Este 5 de Outubro de 2013, apesar de já ter sido
expulso do calendário oficial de feriados, foi, como sempre, comemorado nos paços do
concelho lisboeta, com o Presidente da República, o Primeiro-Ministro, o
Presidente da Câmara de Lisboa, entre outras personalidades da vida política e
pública nacional. O mais
curioso foi ver Cavaco Silva evocar conceitos republicanos quando estes há
muito que foram suprimidos no actual Estado de Direito.
Diz o
Presidente que na República «não há cidadãos de primeira ou de segunda e
ninguém deve ser privado dos seus direitos de cidadania». Se a escola
é um instrumento de igualdade e de oportunidades, sr. Presidente, gostava muito
de saber como vê o caminho que a actual maioria PSD-CDS tem escolhido para a
escola pública. Ou será que
é masoquismo cortar cegamente e a eito porque temos de cumprir ordens dos
credores? Por que razão as questões que coloca em causa não passam dos
discursos à prática? Pois é, caro
Presidente, a ética republicana também defende que a classe política não pode
estar acima de nenhuma outra classe ou cidadão. A ética republicana também
defende o direito de acesso e igualdade de todos ao trabalho. Coisa bem
diferente se passa no acesso aos cargos de confiança política onde, neste país,
continua a chegar a nata das jotas e os medianos agentes partidários, onde o
mérito não é critério e o amiguismo domina as teias pelas quais se move o poder
instalado. A aspiração
por um Portugal mais livre e democrático, mais justo e desenvolvido, sr.
Presidente, é algo que os senhores que nos governam neste país não sabem o que
é. Se o
soubessem não seriam tão carneiros com a Troika. Impunham-se. Defendiam essa
liberdade e democracia. Em nome dos tais valores republicanos. Mas, como
sabemos, no actual contexto nacional, lá se foi a ética republicana! Triste
República depenada que por cá temos e incapaz de se defender dos abutres que a
assaltaram há muito, muito tempo...
*Crónica 7 de Outubro, Rádio Antena Livre, 89.7, Abrantes.
Comentários