A força do sindicalismo.




No final da semana passada o país praticamente paralisou com várias greves de norte a sul. Transportes na quinta-feira e Função Pública na sexta. Trabalhar, sobretudo, nos grandes centros urbanos, tornou-se tarefa quase impossível, nomeadamente para aqueles que não podiam ou decidiram não fazer greve. As razões são legítimas: o Orçamento do Estado para 2014 prevê mais cortes nestes sectores. A juntar a isso, degradam-se as condições de trabalho de muitos funcionários púbicos e teme-se, como se espera, mais despedimentos no próximo ano. A força sindical ainda consegue, bem ou mal, mobilizar os lados mais frágeis desta história. Contudo, com excepção dos transportes, o poder dos sindicatos tem diminuído à medida que os meses passam e que a Troika por cá anda. Na Função Pública a máquina sindicalista não conseguiu impedir o desaparecimento das suas conquistas mais sagradas, como a redução de salários, os despedimentos, a facilidade de extinção de postos de trabalho e a redução de benefícios dados como adquiridos até há bem pouco tempo. Tristemente, não conseguem nem combater as ameaças constantes, de índole psicológica, em que hoje, no público e privado, os trabalhadores estão sujeitos. Os cidadãos, com o recibo de vencimento cada vez mais magro, cederam aos carniceiros que por cá temos: preferem sacrificar benefícios a ficar sem emprego. E este também é o outro lado da História, legítimo, apesar de ser dolorosamente condenável. A ética e o carácter nunca puseram comida na mesa lá de casa. E nos dias que correm, muito menos. Tudo isto está de facto a mudar-nos. E há um facto incontornável que ninguém pode negar: estamos perante uma transformação profunda da sociedade portuguesa, que veio de fora e foi claramente imposta por invasores reformistas, conservadores e, repito, carniceiros. É certo que não há Estado social sem criação de riqueza e emprego. O problema é que isso também não se alcança sem pessoas. Pessoas essas sobre as quais os sindicatos perdem cada vez mais poder de defesa. É preciso uma revolução de mentalidades, na pirâmide do poder, para que possamos sair deste buraco com alguma dignidade. Se assim não for, nada disto valerá a pena. 

*Crónica de 11 de Novembro, Antena Livre, 89.7, Abrantes. 

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