O domínio espanhol seria, porventura, melhor.
O programa de ajustamento
financeiro termina em Junho de 2014. E, na passada sexta-feira, no debate na
generalidade do Orçamento do Estado, Paulo Portas fez questão de comparar esse
momento com o período em que Portugal esteve sob domínio espanhol, o chamado
período da Restauração. Disse então o Vice-Primeiro-ministro no Parlamento: «em
2011 vivemos uma espécie de 1580 financeiro. Em Junho de 2014 podemos viver uma
espécie de 1640 financeiro». Pois que Paulo Portas continua na sua missão
suicida de vender sonhos envenenados. Bem sabemos que o guião da reforma do
Estado demorou mais de dois anos a ser elaborado, quando era por aqui que se
devia ter começado. Não precisam de nos dizer que este orçamento é só mais um,
envolto em muitas capas pretas, para esmagar ainda mais os portugueses e as
suas vidas. Sabemos bem o quanto nos tem custado a loucura da redução da dívida
e da redução do défice. Este Orçamento tem que ser travado. O tal 1640
financeiro tem de ser obtido com dignidade e não com mais crimes diários sobre
dez milhões de pessoas.
O tal guião da reforma do Estado é tudo menos isso. A
sustentabilidade do mesmo para justificar o Orçamento para 2014 é ridículo. Em
mais de cem páginas não há uma medida concreta, há apenas propostas para
estudos de rentabilidade, avaliações que é preciso fazer mas que não se sabem
quais, e, o mais grave é que o texto serve apenas para nos dizer que o Governo
não sabe onde cortar. E o que acontece quando as pessoas são ignorantes, estão
mal preparadas e não sabem o que fazer? Ora vamos lá cortar nos salários, nas
pensões e manter a carga fiscal. E é a isto que se resumem todos os governos
democráticos que o país conheceu até hoje. A verdade é que nunca tivemos um
Executivo à altura, capaz de resolver os nossos reais problemas. Voltando ao
princípio desta crónica e à ridícula comparação histórica de Paulo Portas,
talvez tivesse sido melhor nunca deixarmos de estar sob o domínio espanhol.
Teríamos, certamente, bom vento e melhores casamentos.
*Crónica semanal, de 4 de Novembro, na Antena Livre,
89.7, Abrantes.
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