O Panteão, o exagero e a não-notícia.
Com o respeito que Eusébio me merece – e este post tem e não tem a ver
com ele – mas já não se aguenta o histerismo criado
em torno da trasladação do corpo do «Pantera Negra» para o Panteão Nacional. Apetece-me
corroborar as palavras do Miguel (Sousa Tavares): «o exagero do momento, ainda
por cima o Panteão tem aquela imagem fria e cinzenta». Heróis, temos muitos com
a grandeza que merecem, obviamente. E é legítimo discutir a questão. O problema
é o momento, o tempo e a circunstância que levam políticos e mundo da «bola» a
precipitarem-se na antecipação da hipótese. Creio, que motivados pela emoção do
momento. Mas grande culpa da histeria
associada, e ainda com os restos mortais de Eusébio por sepultar, deve-se à
comunicação social e à cegueira dos seus profissionais que criam uma não-notícia e a fomentam.
Mas as não-notícias parecem ser, há muito tempo, o foco principal do jornalismo
em Portugal. Pelo menos assim me têm habituado. Bem sei que falamos de Eusébio.
Bem sei a grandeza que o momento, triste, merece. Contudo, a emoção e
descontrolo do trabalho jornalístico no caso é bem mais entendível do que as
ridículas perguntas e respectivas tristes respostas de personalidades como
Assunção Esteves, presidente da Assembleia da República. Há momentos em que o
silêncio devia ser decretado como lei. Para quem pergunta e também para quem
responde. Além disso, o Panteão a mim sempre me fez lembrar o Antigo Regime, a
ditadura, Salazar. É um sentimento idiota, eu sei, mas é o que o simbolismo e a representação do espaço me faz sentir. Pessoalmente, nunca gostei da veneração de restos mortais de
génios, enfiados numa frieza de uma edifício, e que, na certa, muitos dos que desejam as
trasladações e as pedem aos berros, nem sequer lá metem os pés (nem pisarão). Dos que para lá
se mudaram, tenho muita pena por Aquilino e por Guerra Junqueiro. São os meus
preferidos e mereciam povoar outras moradas onde realmente foram mais felizes.
Mas isto é só a minha cabeça e a minha opinião. Se o País – nomeadamente o
Parlamento, como parece bem viável – quiser reconhecer mais uma vez Eusébio,
siga, destino Panteão. Só acho que isso não é impreterível para consumar o que já faz parte da Históra: a glória de um Rei. Ou uma
Rainha. Sejam eles quem forem.
P.S. – Entretanto já vi por aí um movimento intitulado ‘Aristides
de Sousa Mendes para o Panteão’. O efeito mimético é assim. Aristides é outro
dos grandes. E já agora, se vai começar a romaria, eu quero Carlos Pinto Coelho
no Panteão. Estão a ver como as comparações dos Génios são injustas? Não é no
Panteão que os grandes se tornam Heróis de um País, mas sim em cada um de nós, nos nossos corações, nas nossas vidas,
na forma como nos moldaram.
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