Um problema que se resume apenas e só ao projecto europeu.
Assim,
de repente, quase como uma resolução de novo ano, os Estados Unidos estão muito
preocupados com a Europa e até com Portugal. Ficamos a saber há poucos dias que
as autoridades de Washington estão preocupadas com a débil recuperação
económica europeia. Por isso mesmo o secretário do Tesouro dos Estados Unidos vai
deslocar-se à Europa nas próximas semanas, passando por Lisboa, para defender
políticas a favor do crescimento económico. O
périplo conta ainda com deslocações oficiais a França e à Alemanha. Ora, sabemos bem que esta preocupação
vinda do outro lado do Atlântico não é inocente.
O desempenho europeu, em termos económicos, faz mossa na economia americana,
também ela a recuperar do embate de 2008. O que incomoda mais é saber que a política
de austeridade aos países mais vulneráveis, como Portugal, foi exigida, sem dó
nem piedade pelo FMI. Na verdade, com ou sem programa cautelar, Portugal, no
caso, vai demorar anos a recuperar destas consequências que, mais do que
económicas, são essencialmente sociais. A pergunta que se impõe directamente
aos Estados Unidos é só uma: como se consegue o tão desejado crescimento
económico quando os seus principais impulsionadores, os trabalhadores, as
pessoas, gente de carne e osso, engrossam as fileiras do desemprego dia após
dias? Mas não são as pessoas que fazem as empresas? E não são as empresas que
fazem uma economia? E já agora, como se consegue dar a volta a uma economia,
refém de uma Europa egoísta e impulsionar políticas de crescimento? O maior
problema neste momento é precisamente o futuro da moeda única e o que queremos,
afinal, da política monetária europeia. A saída da crise para os países
periféricos europeus e actualmente com programas de ajuda financeira só verá
luz ao fundo do túnel se esses mesmos países forem capazes de ser soberanos em
toda a linha, e não apenas na questão financeira. O FMI pode sair de Portugal
em 2014, pode até haver programa cautelar, mas no fundo, sabemos que a nossa
soberania política será sempre limitada. O projecto europeu, que os países do
eixo central fizeram questão de moldar mediante os seus interesses, continuará
a ser um fiasco, e a comprometer o futuro de gregos, portugueses e espanhóis. Enquanto
do outro lado do Atlântico não se perceber isto, as lições de moral vindas da
estrutura comandada por Obama, será sempre música para os nossos ouvidos. E já
agora, enquanto em Portugal ceder ante o poderio económico europeu, com sede em
Berlim, jamais haverá esperança no futuro.
*Crónica de 5 de Janeiro de 2014 na Antena Livre, 89.7, Abrantes.
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