Saudades de congressos à moda antiga.



Num fim-de-semana de muita agitação política nos dois maiores partidos portugueses, os cidadãos deste país ficaram todos com a prova de que a Política, essa ciência que devia servir o povo, continua a trilhar o caminho do costume. Em ano de eleições europeias, a um ano de legislativas e a dois de presidenciais, há mais vida para além da Troika nomeadamente no que respeita aos queridos políticos do sistema que por cá temos. O congresso do PSD foi a prova de que a cadeira de Belém, ainda longe de desocupada por Cavaco, não escapa a Marcelo Rebelo de Sousa que, pelos vistos, já está na corrida ao lugar. Apesar de não o ter dito peremptoriamente, Marcelo foi ao Coliseu dos Recreios marcar presença, amanteigando Pedro Passos Coelho, numa clara demonstração de vontade em querer ser, finalmente, candidato a Belém. Mas o professor não foi o único antigo presidente do PSD que fez número na rua das portas de Santo Antão. Santana Lopes, Marques Mendes e Luís Filipe Menezes também apareceram. E se uns nunca morrem, como Santana, já outros, como Menezes, precisam de justificar derrotas eleitorais passadas. Ou talvez Menezes já tivesse saudades das lágrimas derramadas no mesmo palco há 20 anos num discurso contra «o famoso eixo sulista, elitista e liberal» da época, liderado por Durão Barroso. Seja como for, além da família laranja ter declarado apoio ao querido líder nesta missão com a Troika, o pior de tudo é saber que Pedro também não esquece os amigos de sempre, os que o ajudaram a trilhar o caminho até São Bento. Falo de Miguel Relvas, de quem imagino que os portugueses já tinham saudades, e escolhido por Passos para cabeça de lista do Conselho Nacional do PSD. A decisão do amigo Pedro provocou mal-estar junto de muitos congressistas, que não entendem a razão pela qual Relvas foi escolhido para liderar a candidatura. Recorde-se que o Conselho Nacional é o órgão mais importante entre congressos, e funciona como o chamado Parlamento do PSD. Mais tarde ou mais cedo o regresso aconteceria, porque há favores que não se podem deixar de
pagar. E a amizade na política é lei. Sobretudo quando é preciso começar a preparar campanhas eleitorais, missão que Relvas executa e muito bem. Não contente com a festa laranja no coração de Lisboa, e entre avanços e recuos do líder da Oposição, eis que finalmente António José Seguro decide em domingo de descanso, anunciar o cabeça de lista do PS às europeias. Francisco Assis. Nada de surpreendente, não fosse mais que certa a escolha. Só é pena que o secretário-geral do PS tenha demorado a reagir, já que decidiu fazê-lo um dia depois de Passos Coelho ter anunciado Paulo Rangel como o n.º1 da coligação PSD-CDS/PP ao mesmo acto eleitoral. Se havia dúvidas de que a política à portuguesa estava morta, essas dúvidas acabaram neste fim-de-semana. Com Troika ou sem Troika, nos partidos de poder que por cá temos, prosseguem as estratégias de poder, a escolha de cadeiras, os interesses instalados. Triste país este que continua refém do motor de cacique da política nacional. É com esta gente que temos de nos confrontar no boletim de voto.Resta saber até quando porque já faltou mais para deixar de haver país.

*Crónica de 24 de Fevereiro, Antena Livre, 89.7, Abrantes [www.antenalivre.pt]. 

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