A Saúde que por cá (não) temos.

Este fim-de-semana o Diário de Notícias deu a conheceu ao país uma realidade mais que comprovada. Todos sabemos, por experiência própria, o quadro em que trabalham os hospitais públicos, mas temos agora esse triste cenário em números. De acordo com o jornal, Portugal tem apenas metade das camas necessárias para cuidados intensivos, que é como dizer, que existem quatro a cinco camas por cada cem mil habitantes. A média europeia é de 12. O trabalho jornalístico decorreu de uma outra notícia da semana passada em que o DN dava conta do caso de um doente das Caldas da Rainha que foi rejeitado em quatro hospitais, tendo acabado por falecer, precisamente no hospital de Abrantes. Dia após dia constatamos, por conta própria, o dramático cemitério em que se transformou o Serviço Nacional de Saúde. E ainda que os números nos ajudem nem seria preciso, já que todos nós, a cada deslocação que fazemos a um hospital público, sentimos na pele que os nossos descontos realmente estão a pagar a tal dívida e não o Estado social a que temos direito. Há um ano, um famoso relatório da OCDE já nos avisava para o caos. Nesse documento era dito, preto no branco, que as medidas do Governo de contenção da despesa no sector da saúde fizeram com que Portugal acabasse por cortar o dobro do que era exigido no memorando de entendimento com a troika, no que à saúde diz respeito. Cortes nas despesas com o pessoal, “concentração e racionalização” da oferta em centros de saúde e hospitais do Serviço Nacional de Saúde e cortes nos benefícios obtidos através dos impostos, como as deduções de despesas em sede de IRS. Estas foram apenas algumas das facas que caíram em cima de nós desde 2012. Se há sector que pode ter gestão de privados mas não ser privatizada esse sector chama-se Saúde. Concordo com a racionalidade de recursos, mas isso não pode ser sinónimo de cortar a eito, quando a esmagadora maioria das pessoas não é rica e não pode recorrer ao privado. O Serviço Nacional de Saúde, que este país construiu desde 1976, está posto em causa de há dois anos a esta parte. Este é um facto indesmentível. O aumento das taxas moderadoras diminuiu a acessibilidade aos serviços, nos hospitais faltam medicamentos para muitas doenças, e dos quais dependem as vidas de muitos utentes. Fecham serviços de proximidade e instituições de qualidade reconhecida sem outra justificação que não seja a de poupar na saúde para gastar nos juros da dívida! Paguemos a dívida mas não à custa da morte de um País. Ou Paulo Macedo percebe isto de uma vez por todas ou em Maio, quando a Troika se for embora, é preciso um caixão bem maior para enterrar o Serviço Nacional de Saúde.
*Crónica de 3 de Março, Antena Livre, 89.7, Abrantes. 

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