A matança das gerações do futuro.


Na semana passada o Instituto Nacional de Estatística divulgou as projecções sobre a natalidade em Portugal. As conclusões não deixaram ninguém surpreso e são, de ano para ano, cada vez mais preocupantes. Portugal está cada vez mais envelhecido e, de acordo com o INE, dentro de 50 anos, o país pode perder mais de quatro milhões de habitantes, sobretudo se a natalidade não aumentar e a emigração jovem não for estancada. É no Interior que o despovoamento, com a perda de habitantes e a ausência de jovens, é mais gritante. Pode parecer uma frase comum mas quem, como eu, conhece o país de norte a sul, sabe bem o drama que por lá se tem criado nas últimas décadas, nesta matéria. Gosto sempre de recordar as promessas dos partidos, porque desde que me lembro de ser gente, que assisto a cantigas de mau pagador no que toca a políticas de natalidade. E basta recuar apenas às legislativas de 2011, em que a queda do número de nascimentos em Portugal era uma preocupação manifestada nos programas eleitorais. A verdade é que as promessas ainda não saíram do papel, nomeadamente ao nível dos benefícios fiscais. Com a Troika por cá, caíram por terra questões fundamentais como a flexibilização do trabalho sem penalização para as mães ou as licenças combinadas, não penalizadoras de percursos profissionais. Estamos ainda muito longe de ter as condições necessárias para as pessoas decidirem ter mais filhos sem terem medo de perder o trabalho ou a possibilidade de progressão na carreira. E basta olhar para os alertas dos últimos anos: para o Estado os filhos valem hoje zero. No que diz respeito ao cálculo do IRS, por exemplo, não entra em linha de conta a dimensão da família. É completamente injusto, uma família com o mesmo rendimento, sem filhos, pagar de taxa de IRS igual como se tivesse dez filhos. Este é só um exemplo, em como os nossos políticos valem também zero em matéria de natalidade. E a ser verdade o que se vislumbra por aí com novos cortes de salários e pensões, temo que as projecções do INE para os próximos 50 anos sejam ainda mais negras. Assim não vamos lá. Enquanto o défice for a cegueira nacional de quem nos governa estamos a matar milhões de pessoas e a impedir que nasçam as gerações do futuro, as gerações que sempre prosseguiram com a existência de um país. E um país sem pessoas, bem o sabemos, não é país em qualquer parte do mundo.

Crónica 31 de Março, Antena Livre, 89.7, Abrantes. Para ouvir aqui.

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