Salário mínimo. Uma questão de dignidade.

O aumento do salário mínimo nacional voltou à agenda política pela voz de Pedro Passos Coelho, com o primeiro-ministro a manifestar disponibilidade para rever as condições da negociação colectiva para 2015. Não deixa de ser curioso que Passos Coelho venha falar agora do assunto. Pior. Que venha mentir aos portugueses e, acima de tudo, aos milhares de cidadãos que têm de viver com 485 euros por mês. É uma falta de vergonha, de honestidade e de respeito para com pessoas, famílias e seres humanos que passam severas dificuldades, agravadas pela entrada da Troika em Portugal. Todos sabemos que estamos a pouco mais de um mês das eleições europeias. Todos sabemos que em 2015 há legislativas. E todos sabemos também que, mais uma vez, e apesar do discurso de austeridade que há três anos por cá anda, na hora do voto, Pedro Passos Coelho tem a memória curta e faz das promessas um bem maior para os seus camaradas de partido. Mas é preciso repor a verdade e recordar o que, no passado não muito distante, disse o primeiro-ministro na Assembleia da República. Há um ano Passos Coelho assegurava que estava fora de causa aumentar o salário mínimo, com o argumento de que tal medida significava um sobrecusto para as empresas e uma barreira à criação de emprego. O que é triste no meio desta história toda é que nem do lado dos sindicatos a coisa melhorou. CGTP e UGT, manietadas pelo PS e PCP, vieram logo cantar a mesma cantiga eleitoral, disparando para São Bento em jeito de esgrima eleitoral. Aconteça o que acontecer, sabemos que em matéria de indicadores de produtividade, salários baixos e desemprego Portugal está fim do ranking europeu. Não há país que sobreviva caminhando para a miséria, uma miséria que se reflecte em milhares de trabalhadores a ganharem 485 euros por mês. O ministério da Economia diz que eram 276 mil os trabalhadores a ganhar o salário mínimo em 2012. Os sindicatos falam em 500 ou 600 mil. A duas semanas das celebrações dos 40 anos do 25 de Abril, a demagogia e retórica políticas estão mais apuradas que nunca. Só mesmo os indicadores de pobreza, desemprego e miséria mudaram. E para pior. São estes senhores que temos para nos devolver a esperança. E não há alternativa. A menos que acreditemos em milagres. Eu por mim quero continuar a acreditar. Ainda que, cada vez mais, seja uma tarefa difícil.

*Crónica de 14 de Abril, Antena Livre, 89.7, Abrantes. Podem ouvir também aqui

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