Um povo que merecia mais. Muito mais.

Até ao final deste mês o Governo tem de apresentar o Documento de Estratégia Orçamental para 2015, onde, já sabemos, mais cortes se avizinham. Para já, e para o próximo ano, são mais 1,7 mil milhões de euros que estão em causa. E se a meta de 2,5% para o défice no próximo ano tem de ser alcançada sem mais cortes do lado da despesa, como o Governo tem sublinhado, a pergunta que se impõe é só uma: afinal onde é que se vai buscar tanto dinheiro, sem mais cortes de despesa e sem ir à receita? O jornalista de fim-de-semana ao serviço da SIC, Luís Marques Mendes, com fontes idóneas no Governo, veio garantir este sábado que não haverá nem aumento de impostos nem «cortes adicionais» nos salários e pensões dos funcionários públicos, deixando ainda escapar que a energia e a banca deverão ser os sectores que o Executivo se prepara para atacar. Uma coisa é certa: é bom que deixem de lado o rendimento das pessoas, como salários e pensões, sobretudo no momento em que Pedro Passos Coelho já deixou a certeza de que os cortes em matéria de salários nos últimos três anos são definitivos. Com tanta cegueira nas metas impostas por Bruxelas e pela Troika em relação ao défice e à dívida, e a manterem-se as vénias servis por parte de Portugal, um dia vamos acordar e perceber que não há gerações para prosseguir o legado. O desemprego, a pobreza, o rendimento disponível das famílias e esta austeridade louca que vai matando aos poucos, de mês para mês, de ano para ano, tudo isto, irá conduzir a um país sem rumo, sem serviços e, sobretudo, sem pessoas. O que me entristece é saber que, estando à porta eleições europeias e legislativas, os nossos queridos políticos permanecem na terrível missão do eleitoralismo bacoco. Uns prometem acabar com os sem-abrigo, outros há que começam a falar em redução de impostos. Com gente desta, podemos nós, portugueses, ter paz? No ano em que se comemoram os 40 anos da Revolução de Abril, este povo merecia mais. Muito mais. Ironicamente, parece que o brinde é outro: uma morte lenta e dolorosa.


Crónica de 7 de Abril, Antena Livre, 89.7, Abrantes. Ouvir aqui

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