A provocação presidencial.
«O que mais me vem à memória, no dia de hoje,
são as afirmações perentórias de agentes políticos, comentadores e analistas,
nacionais e estrangeiros ainda há menos de seis meses, de que Portugal não
conseguiria evitar um segundo resgate. O que dizem agora?». A frase vem assim,
seca, indigna do Chefe de Estado, na tal página oficial do Facebook (que só
serve para fugir às responsabilidades), sobretudo para um momento nacional que,
concorde-se ou não, é importante, quanto mais não seja, pelo simples e tão
enorme facto de mexer com as nossas vidas. A diferença entre o que Cavaco diz e realmente pensa é enorme. E, neste caso, o segundo mandato em Belém tem sido um profundo desastre. Por acaso (somente por acaso) defendo o mesmo que o Presidente: um
programa cautelar. Provavelmente pelas mesmas razões: pela tal garantia de que
não ficaríamos frágeis caso chegue por aí um abanão imprevisível e faça de novo cair o
rectângulo. Lamento apenas que Cavaco venha atear mais fogo do jogo político-partidário, desafiando os que
questionaram a inevitabilidade de um segundo resgaste. Mas agora não se pode
questionar as decisões da Europa e dos credores? Então mas lá
porque pedimos dinheiro emprestado perdemos o direito a ter opinião e a
questionar o que os responsáveis políticos, eleitos por todos nós, fazem ou não
fazem? Querem ver que agora que há «saída limpa», que a Troika vai embora, regressam
os disparares supremos de quem sempre andou a brincar com o nosso dinheiro.
Esta classe política perdeu o juízo. Há muito. E, volto a insistir, se volta a
festarola dos últimos anos, então aí podem crer que a dose de austeridade que
nos colocaram em cima serviu apenas para isso mesmo: para nos mandar
direitinhos para a cova.
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