Uma saída pouco limpa.
Numa semana em que o país político andou em
esgrima eleitoral com a saída limpa, o adeus da Troika e afins, os portugueses
foram prendados pelo meio com mais uns pós de austeridade, assim suaves, para
não acordar o povo, derrotado por tanta injecção de austeridade. Do famigerado Documento de Estratégia Orçamental
saiu o aumento do IVA de 0,25% e da Taxa Social Única em 0,2%. Diz o
primeiro-ministro e o vice-primeiro ministro que as medidas têm como objectivo aliviar os pensionistas e repartir
os sacrifícios, e que a medida vai beneficiar a «médio prazo» a economia. E têm a lata de dizer mais:
que tal não terá qualquer efeito recessivo visando apenas garantir a sustentabilidade
do sistema de pensões. Só um louco pode achar que
presentes destes são uma boa notícia, mas no caso, com o actual Governo, há
muito que nos habituámos a ver péssimas notícias transformadas em realidade de sonho. Não é preciso ser um
cérebro de economia para perceber que, no actual quadro social, a subida do IVA irá diminuir a
competitividade do país e pressionar ainda mais a procura interna. Pior que isso, só
mesmo a mentira vinda do lado do CDS, esse parceiro de coligação que irá
desaparecer rapidamente no terreno eleitoral. Não só Paulo Portas como o
ministro da Economia, Pires de Lima, têm mentido à descarada nos últimos meses,
falando da necessidade de reduzir a carga fiscal. E, sem vergonha, persistem na
mentira, anunciando um novo aumento de impostos, assim, sem mais nem menos,
ignorando o embuste em que eles próprios se transformaram. Em vésperas de eleições europeias, no final
deste mês, e com a chamada «Saída Limpa» dada como certa, sabemos bem que a
solução imposta pela Europa do Norte, favorece os partidos do Governo que podem
anunciar uma reconquista da confiança dos investidores acima do esperado e de
mais uma parcela de soberania. Cá estaremos todos para ver o veredicto das
eleições destes dois anos que temos pela frente. Continuo a achar que um programa cautelar seria a opção que, à partida,
deixaria o país menos vulnerável a choques ou a alterações súbitas dos
mercados. Já neste cenário de saída limpa, o país fica
mais entregue a si próprio e terá de assegurar uma considerável
almofada de liquidez, capaz de suprir as necessidades de financiamento deste
ano e de 2015. Mas como também tenho dito repetidas vezes e não me canso de o
dizer, a História destes três anos de Troika em Portugal ainda não terminou. A
factura para o sistema político ainda não chegou. Uma coisa é certa: a política partidária como a
conhecemos nunca mais será a mesma, a menos que os portugueses tenham a memória
curta.
*Crónica de 5 de Maio, na Antena Livre, 89.7, Abrantes.
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