Viagem ao Portugal do fantástico!

Piódão

Nas serras da Estrela, Gardunha e Malcata, 12 localidades, todas elas com castelo e próximas à fronteira, contam uma parte da história de Portugal. É sobre estes doze povoados que hoje irei falar. Conheço quase todas. Andei pelas ruas, ruelas e estradas longas em comprimento e bem pequeninas em largura. Perdi-me nas centenas de habitações construídas em granito e nos que nelas habitam, um traço comum às aldeias da Beira Interior. E foi nos sorrisos destas gentes que consegui alento para acreditar que o meu país é bem mais que a austeridade que me falam. Há 18 anos, entidades públicas e investidores privados, criaram as bases para as Aldeias Históricas de Portugal. Objectivo? A promoção da região e a recuperação do património. Hoje, portugueses e estrangeiros, têm ao seu dispor maravilhas deste país em estado natural para apreciar. De Belmonte a Castelo Novo, passando por Almeida, Castelo Rodrigo, Monsanto, Sortelha, Piódão ou Linhares da Beira, só para citar algumas, aqui há portugalidade, com a sua cultura, tradições e o seu ADN tão peculiar. Quando vejo tantos e tantos portugueses a viajar para o estrangeiro, pergunto-me se conhecem realmente o seu país. Questiono-me até que ponto sabem o valor que têm cá dentro. E, se estamos em crise, se não há dinheiro nas carteiras, também ressalvo já, que não é preciso muito para passar um fim-de-semana nestes lugares de alma cheia de que hoje vos falo. Os agentes económicos apostaram no território. Uns com a ajuda de fundos europeus, outros sozinhos, nunca com a ajuda directa do Estado central. Fizeram-se à vida, acreditaram que era possível, e mesmo com dificuldades, continuam a manter vivas muitas das nossas aldeias, reavivando laços comunitários ancestrais e gerando sustentabilidade no território. Apesar da desertificação, todas as 12 aldeias históricas deste Interior esquecido têm qualidades que o podem transformar «num espaço de oportunidades». Basta querer. E é esse querer que, nos tempos negros que vivemos, faz toda a diferença. Falo-vos destes pequenos tesouros porque merecem ser descobertos e vividos mas, acima de tudo, porque são o exemplo que muitos de nós necessita para continuar a acreditar nas nossas vidas. Para combater os nossos problemas. Nem tudo depende de nós, nesta matança geracional que governo e Troika talharam para nós, mas há um lado das nossas vidas que nos pertence e que nos permite comandar o destino que se segue.

*Crónica de 23 de Junho, Antena Livre, 89.7, Abrantes.

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