BES. Os esqueletos maiores ainda não saíram do armário.
A crise no Grupo Espírito
Santo que há semanas tem andado nos escaparates mediáticos leva-nos a reflectir
em como a crise económica e financeira em que a Europa mergulhou está longe de
ser resolvida. A fazer fé nas garantias do Banco de Portugal, e sendo certo que
não é o banco que está em causa mas sim os negócios ruinosos das empresas do
Grupo Espírito Santo, continua a passar para a opinião pública a ideia que a
instituição bancária está sólida. Contudo, a história está longe de terminar e tem
contornos cada vez mais perigosos a cada dia que passa. Há indícios de crime na
gestão do grupo, negócios mal explicados, milhões de euros que desapareceram em
negociatas, e temos já a certeza que a Procuradoria-Geral da República
investiga o assunto há muito tempo. Não tenho a menor dúvida de que o caso irá
ainda colocar à vista de todos esqueletos bem maiores e que a Justiça terá
muito trabalho pela frente. Uma
coisa é certa, se a gestão do Grupo estiver arruinada, significa, em paralelo,
o falhanço do país nos mercados globais, porque com ele arrastam-se medos no
investimento, problemas de confiança e uma consequente decadência da economia
nacional. Pior que tudo isto
são as dúvidas sobre a supervisão do Banco de Portugal e da Comissão de Mercado
de Valores Mobiliários, que, parece-me a mim, sempre se amedrontaram perante um
Ricardo Salgado que mandava em tudo, e que permitiram falcatruas nas contas e foram
cúmplices em vendas tóxicas. No
meio disto tudo, vimos como, perante dificuldades de financiamento, o Estado,
através do Governo, teve de, pela primeira vez, dizer não ao todo-poderoso
Ricardo Salgado. Na verdade, o que o caso BES coloca a nu, é a
fragilidade da resposta europeia à crise das dívidas soberanas, com implementação
de medidas de austeridade rigorosa, aplicadas aos países em maiores
dificuldades. Os problemas do BES vieram acordar os fantasmas que desencadearam
a fragilidade da zona euro e as débeis fraquezas do sistema bancário. É por
isso que assusta sempre que soa a campainha vermelha na banca. Aconteça o que
acontecer, esperamos todos que a Justiça funcione, que as ilegalidades que a
família Espírito Santo alegadamente cometeu sejam provadas. E se o banco está
assim tão sólido, como garante o banco central do país, que se fiscalize, se
passe novamente a pente fino as contas. O novo presidente Executivo, Vítor
Bento, tem muito trabalho pela frente, sendo a coragem a sua principal aliada
no futuro. Coragem para mostrar que é possível ser transparente e manter um dos
maiores bancos portugueses intacto no sistema bancário português.
*Crónica semanal de 21 de Julho, Antena Livre, 89.7, Abrantes. Para ouvir aqui.
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