Um embuste chamado Paulo Portas.

A propósito dos 40 anos do CDS-PP, vi Paulo Portas falar, de boca cheia, dos contributos do seu partido para a democracia portuguesa. Um partido que, diz Portas, é sempre chamado ao poder e à responsabilidade, em momentos importantes para o país. Pois bem, quanto à retórica já a conhecemos, tal como nos são familiares as manhas do animal político do Largo do Caldas. O problema é que Paulo Portas há muito que perdeu a vergonha, continuando a tratar os portugueses como burros, estúpidos e ignorantes. Ora, nesse belo discurso de aniversário, o líder centrista defendeu, entre outras coisas, ser essencial promover políticas fiscais que garantam «impostos mais amigos das famílias». A memória é curta para os lados do vice-primeiro-ministro. Mas memória em relação a isto é coisa que a mim não me falta. Estávamos em Abril de 2008 e Paulo Portas começava, à época, a colar o CDS a bandeiras ideológicas e eleitorais cirúrgicas. Uma delas ficou para a História e tinha como nome, CDS, o «partido da defesa do contribuinte». Num discurso perante os militantes nessa altura, o líder do CDS gritava alto e bom som, e passo a citar: «tem de haver uma só lei, um só peso, uma só medida. O Estado, pelo fisco, faz penhoras e cobranças ilegais, não responde às reclamações, cativa salários e contas bancárias. Quando o contribuinte falha, é penalizado, e o Estado também tem de o ser, porque o que se verifica é que, quando é o Estado que não cumpre com os elementares direitos dos contribuintes, nada acontece aos responsáveis». Eu repito. Esta declaração data de Abril de 2008. Como esta, houve dezenas delas. Entretanto, passaram seis anos. Paulo Portas integra um Governo de coligação de centro-direita, que ficará para a história como o impulsionador de uma das reformas mais brutais em matéria fiscal. E ninguém se esquecerá da frase histórica de Vítor Gaspar sobre o «colossal aumento de impostos» que todos nós hoje pagamos. É preciso ter muita lata para faltar ao respeito aos portugueses. Onde pára, afinal, a defesa dos contribuintes? Nós, por cá, não sabemos, pelo contrário, as carteiras esvaziam-se, o fisco leva-nos suor todos os meses e deduções é coisa cada vez mais rara para quem tem nacionalidade portuguesa no Cartão do Cidadão. Seja como for, há coisas que nunca mudam. A falta de vergonha de Paulo Portas é uma delas. 

*Crónica de 14 de Julho, Antena Livre, 89.7, Abrantes. Áudio aqui.

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