BES. Um caso de exigência europeia.
A confirmarem-se as notícias
do passado fim-de-semana ficamos todos a saber aquilo que já temíamos no caso
BES. A factura da má gestão da família Espírito Santo vai ser paga, nos
próximos anos, por todos os contribuintes portugueses. O buraco adensa-se
diariamente, as falcatruas do senhor Salgado vão sendo descobertas todos os
dias e já ninguém consegue negar que a ajuda do Estado será uma realidade. Um
Estado ferido no seu coração, que está a ficar órfão do Serviço Nacional de
Saúde, da Educação dos seus cidadãos, na protecção social de todos nós e que,
em vez ajudar quem mais precisa, prefere auxiliar a banca gananciosa que viveu,
essa sim, acima das suas possibilidades. Nem mesmo o fundo de recapitalização
da banca, que resulta do programa de ajustamento financeiro do país, ajuda
nesta tarefa de negar todos os dias o que para todos é uma evidência. Esse
fundo, que ajudou bancos como o Banif, vai injectar dinheiro no BES, dinheiro
esse que o banco liderado actualmente por Vítor Bento rejeitou quando muitos
outros bancos nacionais aceitaram a ajuda. O Banif, por exemplo, sobrevive hoje
com a ajuda desse Fundo, e sabemos que nunca irá devolver o dinheiro. O mesmo
acontecerá com o BES. Pior. O dinheiro não chegará. Só é pena que as ajudas não
sejam tão céleres a quem neste país perdeu o emprego, a famílias inteiras à
mercê de subsídios miseráveis que não chegam para alimentar os filhos. No fundo
aos milhares que se viram obrigados a partir em busca de um futuro melhor para
as suas vidas. Gostava, por isso, que um dia, os senhores da Troika, os
políticos europeus e o Estado português assumissem o erro crasso que continuam
a cometer perante os pobres e honestos, e fizessem a mea culpa que se exige por
tanto se esforçarem para salvar a banca perdida. Continuo a dizer que o BES não
terá salvação. E não é preciso ser economista para perceber que, mais cedo ou
mais tarde, o banco ruirá, como estão a ruir as empresas do Grupo. Será uma
questão de tempo. Até lá, o buraco vai sendo tapado com o dinheiro dos nossos
impostos. À boa maneira portuguesa.
*Crónica de 4 de Agosto, Antena Livre, 89.7, Abrantes.
Comentários