Marinho Pinto. O eterno populismo.


Esta semana, com o país inteiro a banhos, bem que podia virar a agulha e falar de assuntos agradáveis, compatíveis com essa onda estival que assola os portugueses. Mas, para variar, vou falar de política, que o BES, esse, já muita tinta gastou na imprensa portuguesa por estes dias. Pois bem, vou falar de Marinho Pinto, que obteve nas europeias de Maio um resultado surpreendente pelo Partido da Terra. Agora, como é seu hábito populista, volta a chocar. No caso, pelos piores motivos. Nem três meses passaram depois de ser eleito ao Parlamento Europeu e o antigo bastonário da Ordem dos Advogados diz que, daqui a um ano, irá abandonar Bruxelas, para se candidatar à Assembleia da República nas legislativas de 2015. Para quem acreditava no homem que não se cansa de acusar, de forma abrupta, o poder político e os negócios do Estado, pelos vistos, os péssimos vícios da classe estão a começar a atacá-lo. Diz Marinho e Pinto que a sua decisão se justifica pelo facto de «os problemas nacionais serem mais graves do que os europeus», sendo que faz mais falta em Lisboa que na Europa.Mais. A sede do poder está a ser de tal modo viciante, que até nas presidenciais de 2016, Marinho Pinto admite uma candidatura.Tudo isto seria comum, tratando-se de um político de base, de gente dos aparelhos partidários e que fazem carreira de cadeira em cadeira, consoante os lugares e os favores a pagar. Mas vindo de Marinho Pinto, choca. E todos os que nele depositaram o seu voto em Maio passado devem estar bem arrependidos pela fraude que ajudaram a vingar.  O problema dos independentes, já nesta antena o referi, é que rapidamente se tornam reféns das benesses do sistema. Marinho Pinto é a última prova disso mesmo. Por mais que diga que não. Basta ver por que razão o antigo bastonário da Ordem dos Advogados fica mais um ano em Bruxelas. É que com o salário de 17 mil euros por mês, do qual não pretende prescindir, a vida tem outro encanto. Só é pena que não aplique a si próprio as críticas que se tem fartado de cantar aos seus pares no hemiciclo europeu. E ainda foi mais longe, dizendo-se pobre e ter uma filha no estrangeiro para alimentar. Desconheço os rendimentos anuais de Marinho Pinto, mas dizer que é pobre com um salário de 17 mil euros por mês é no mínimo uma afronta para milhares de portugueses, que vivem com o miserável subsídio mínimo de desemprego que não chega aos 500 euros. Com gente desta, que se assume como independente, e símbolo dos bons costumes, o país está bem entregue, não há dúvida. Se para muitos havia dúvidas de que Marinho Pinto é uma personagem de ficção, elas começam a dissipar-se. Sobretudo para o eleitorado conquistado em Maio passado. Seja como for, nunca é tarde para aprender.

*Crónica de 11 de Agosto, Antena Livre, 89.7, Abrantes.




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