Uma silly quente e com fantasmas.
A tradicional Festa do Pontal
marcou, mais uma vez, a rentrée política do PSD neste mês de Agosto ora tímido,
ora ousado. Num Verão pouco quente nas temperaturas e a ferver na área
política, vamos ouvindo os sermões e missas cantadas do costume nesta época
estival que já pouco surpreende. Pedro Passos Coelho, na recta final do
mandato, perde a paciência com o Tribunal Constitucional e os seus juízes que teimam
em fazer política e, no fundo, cumprir a Lei Fundamental do país. Ao mesmo
tempo, o primeiro-ministro, desesperado, desafia o PS para consensos em matéria
de reforma de segurança social antes das eleições legislativas de 2015. Mas,
para que não haja dúvidas, o actual líder do PS, António José Seguro, que
também luta pela liderança interna, já veio dizer que não, não senhor, não há
cá acordo para ninguém. Faz bem Seguro, pois claro, que neste momento tem muito
com que se preocupar, nomeadamente na luta por uma liderança que é sua por
direito e legitimidade. O Verão, que já vai longo, continua a dar-nos tinta com
o caso BES, um escândalo que irá mostrar como a regulação falhou redondamente, que
colocará a nu as fragilidades do Estado e que desmistifica os banqueiros, tidos
como impolutos e que, estes sim, viveram acima das suas possibilidades e à
custa do desgraçado povo português. Uma banca sem descanso, que agora começa a
ser escrutinada. Não sabemos se para inglês ver, se simplesmente para acautelar
mais desgraças do sistema financeiro. Entretanto, o Montepio está a ser alvo de
uma investigação forense, a pedido do Banco de Portugal, numa acção que visa
passar a pente fino as contas do banco liderado por Tomás Correia, e apurar
eventuais responsabilidades caso haja irregularidades. O Montepio que teve
prejuízos em 2013 de 300 milhões de euros pode bem estar exposto a lixo de
outras entidades financeiras e negócios de investimento. Resta saber se o
supervisor não chega tarde demais a um problema grave e que coloca em causa a
economia e o desenvolvimento, ainda que débil, do país. Num Verão quente em
desgraças bancárias, a política quase que parece um fantasma no meio das férias
dos portugueses. Veremos até onde nos levam neste barco que perdeu o motor e
que se limita neste momento a navegar à vela.
*Crónica 18 de Agosto, Antena
Livre, 89.7, Abrantes.
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