Vasco da Gama. O caso do «arrastão» de que todos falam.

Na semana passada, a comunicação social deu conta de um incidente que aconteceu no Centro Comercial Vasco da Gama, em Lisboa. Decidi esta semana falar sobre este caso porque eu estava lá no exacto momento em que centenas de jovens irromperam pelo centro dentro, em corrida, e espalhando o medo junto de todos os que se encontravam naquela zona interior do espaço. Acho importante abordar o assunto sobretudo porque li e ouvi comentários que não correspondem exactamente ao que se passou. Horas depois do sucedido, as autoridades confirmaram tratar-se de um encontro de jovens marcado nas redes sociais, que visava meramente o convívio. Vi quatro jovens confirmarem a versão da polícia. Partindo deste pressuposto eis aquilo a que assisti. Encontrava-me numa loja à espera de ser atendida localizada no corredor do rés-do-chão do centro. De repente ouviu-se gritos, sons altamente ruidosos como se um terramoto se tratasse. Assim que coloco o pé fora da loja, voltei a entrar. De rompante, vejo a tal invasão de que todos falam. Uma multidão de jovens a correr desalmadamente dentro do espaço. A coisa piorou quando três rapazes tentaram, no meio da confusão roubar equipamentos expostos na loja onde me encontrava, obrigando a mesma a encerrar a porta por dez minutos. Instalou-se o medo e o pavor de todos os olhares que estavam ao meu alcance. E sim, tememos todos pela vida. Se a versão dos que defendem o encontro unicamente para convívio implica espalhar o terror, de forma intencional, dentro de um centro comercial, então, desculpem-me mas o que eu vi foi vandalismo e criminalidade. Quando os ânimos acalmaram, assisti a comportamentos e conversas de alguns destes jovens depois de a polícia ter chegado e tomado conta da ocorrência. Ouvi desabafos que indiciam que a acção isolada de invasão ao Vasco da Gama foi programada. A polícia manteve-se no local nas horas seguintes. E aqui chegamos ao segundo ponto deste caso. Há um jovem, de raça negra, que filma uma conversa com um agente da PSP depois de este o impedir de entrar no centro comercial, ao mesmo tempo que um casal branco entra sem qualquer problema. Segue-se a tradicional publicação nas redes sociais e por toda a internet, bem como as críticas de preconceito racial contra a polícia. Pois bem, que ordens tinham os agentes no local ninguém sabe. Mas a verdade é que há em Portugal um problema difícil de resolver no que ao racismo diz respeito. A maioria dos jovens que invadiu o Vasco da Gama era, de facto, negra. Eu estava lá, posso confirmá-lo. Obviamente que das duas uma, ou encerravam o centro depois do incidente ou, mantendo-se aberto, torna-se difícil explicar por que razão se deixam entrar uns cidadãos e outros não. Por outro lado, a sociedade nem sempre consegue colocar-se na pele das forças de segurança que, infelizmente, lidam há muitos anos com gangues. Há-os de todas as cores. A criminalidade não é, infelizmente, exclusiva de brancos, negros ou amarelos. Mas é um facto que a criminalidade na forma como se organiza está relacionada com bases sociais desestruturadas, com comunidades imigrantes que agem em grupo, e isso potencia a ideia que a sociedade e as suas estruturas cria em relação às etnias e à forma como se relaciona com elas. Na minha opinião, o que está meramente em causa é a capacidade de todos em assumirem as suas responsabilidades. E se este caso, na minha opinião, foi pensado de forma a espalhar o terror, não é menos verdade que os que participaram nele eram, quase na totalidade, negros. Mas isso pouco interessa, porque se fossem brancos deviam ter o mesmo tratamento reprovável, porque incompreensível é sim a atitude e nunca a cor da pele. Sem querer ser defensora nem de polícias nem de raças, porque devem todos coabitar disciplinados por direitos e deveres, a verdade é que não há uma lei que regule estes relacionamentos. E ninguém pode atirar a primeira pedra. 

*Crónica de 25 de Agosto na Antena Livre, 89.7, Abrantes. Para ouvir aqui.


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