A luta diária com o Estado português.
Quando todos falam, em termos
generalistas, sobre o Estado social, por vezes, nem sempre os relatos e os
diagnósticos são feitos com dados palpáveis. Ainda que tal seja feito de boa-fé,
a verdade é que só os cidadãos que diariamente se confrontam com o embate,
compreendem realmente o drama em resolver problemas. Seja em repartições de
Finanças, na Segurança Social, Centros de Empregos, Serviço Nacional de Saúde
ou Justiça, a tal realidade é exactamente a mesma, pautada pelas devidas
diferenças que definem cada um dos serviços. O Estado, esse bicho papão que
muitos evitam enfrentar, é de facto uma teia de complicações e asfixias que
leva os cidadãos ao limite das suas capacidades racionais. Nos últimos meses,
por várias razões, tive necessidade de resolver problemas com o Estado. As
experiências que ainda estou a ter são demasiadamente graves para críticas
meramente teóricas como são aquelas que surgem, sobretudo se longe do tal Estado. O cidadão comum depara-se com
burocracias de vária ordem, com maus funcionários, muitos deles ignorantes e
incompetentes. E esta fraca apetência profissional decorre sobretudo da
preguiça, do facto de pura e simplesmente estes funcionários que dão o rosto ao
Estado, se recusarem a cumprir a sua função. O Estado social não pode apenas e
só ser visto do ponto de vista do topo, de quem decide, de quem manda. Tem de
ser analisado igualmente à luz daqueles que o põem a funcionar. Compreendo a
redução de serviços, o corte de subsídios e redução de vencimentos, aceito até
a difícil tarefa de trabalhar com elementos motivacionais que se esfumaram. Contudo,
não posso aceitar a tal incompetência e muito menos a demissão destes
funcionários que estão ali, à nossa frente, para nos ajudar e não para nos
colocar mais problemas. É cada vez mais comum aquela sensação de que o sistema,
em cada sector, está montado para levar cada um de nós à exaustão. Muitos
desistem. E desistir é não dar mais trabalho ao Estado nem fazê-lo perder tempo
e dinheiro com cada um de nós. Porém, só a persistência de lutar contra estas
barreiras e burocracias pode combater a ineficácia que todos nós, tantas e
tantas vezes, combatemos. Só assim podemos obrigar o Estado social a funcionar
e comportar-se como um agente de bem e não como uma entidade suprema que se
acha sempre acima de tudo e todos.
* Crónica de 6 de Outubro na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR AQUI.
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