Portas. O líder (pouco) irrevogável.
Na semana passada, Paulo Portas manifestou o seu interesse na
reposição do feriado do 1º de Dezembro. Tudo seria normal se não o tivesse
feito de forma unilateral e antes do timing que o Governo tinha previsto depois
da suspensão de vários feriados devido aos constrangimentos económicos do país.
A intenção manifestada pelo vice-primeiro-ministro caiu mal no seio da
coligação, concretamente junto do PSD, que vê a atitude de Portas como egoísta
e desleal para com Passos Coelho. Ao contrário do que muitos pensam, a política
da faca e alguidar continua enraizada no sistema partidário português. É de
facto oportunismo da parte de Paulo Portas vir defender reposições de feriados,
sobretudo depois de a Troika ir embora e quando estamos a meses de eleições. Contudo,
aqueles que continuam a surpreender-se com a estratégia do líder do CDS, das
duas uma: ou são inocentes ou andam distraídos. Antes mesmo da cena lamentável
da «demissão irrevogável» protagonizada por Paulo Portas na coligação, quem anda
nestas lides há muitos anos, sabe bem como agem e se comportam determinados
agentes políticos. Paulo Portas é, à semelhança de Santana Lopes e José
Sócrates, um animal político do seu tempo. Que resiste a tentativas de matança,
que ilude o eleitorado e regressa depois em apoteose como se a salvação do
mundo dependesse unicamente da sua existência. A questão do feriado do 1.º
Dezembro, comparada com outras situações do passado de Portas, é uma gota no
oceano. O líder centrista é exímio na instrumentalização do poder e do
eleitorado e é dos melhores políticos da actualidade a encarnarem o papel de
vítima quando a caça ao voto está prestes a bater à porta. Seja como for, o
eleitorado terá a última palavra e veremos que destino terá a linha do CDS no
boletim de voto das legislativas do próximo ano. Temo que o chamado partido do táxi esteja de volta. Há
atitudes que os cidadãos não perdoam. E as sete vidas de Portas há muito que já
perderam o prazo de validade.
*Crónica de 8 de Dezembro, Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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