Ricardo Salgado, o leopardo que perdeu a pele.




Foram oito horas de audição ininterrupta. Falo, obviamente, de Ricardo Salgado, que, na semana passada, foi ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito, que investiga a derrocada do Grupo Espírito Santo. Houve assuntos que não foram abordados, com o argumento, por parte do antigo dono e senhor do BES, de que os mesmos estão em segredo de justiça. Daquele dia, o dia em que Ricardo Salgado tanto esperava para se explicar perante os portugueses, há apenas uma conclusão a tirar: na casa da democracia defendeu-se a honra e dignidade de uma família que conseguiu levar um banco como o BES à falência. Não se esperava outra coisa que não um Ricardo Salgado completamente intocável, a esgrimir sustentações inocentes em que só ele ainda acredita. De resto, pouco mais foi dito, pouco mais a opinião pública teve direito a saber. Quando o inquirido se coloca, durante oito horas seguidas, na pele de inocente, na capa de que estamos perante uma cabala contra ele e a família e no papel de vítima, nada ou pouco mais que nada se esperava que saísse daquela audição. A juntar a isto assistimos a uma estratégia de comunicação montada por Salgado, assessores e advogados. Quem assistiu percebeu que tudo fora preparado ao pormenor. A ideia de que o Novo Banco, é uma «marca branca» e que o BES ruiu porque houve quem tivesse contribuído para isso forma clara, colocando regulador, supervisor e poder político em causa, foi uma mensagem passada sem mácula. Resumindo, para Salgado, ele e a sua família, foram vítimas de uma estratégia de cabala e especulação. O mais ridículo, em cima da inocência reclamada em cada frase, foi a culpabilização de um simples contabilista pelos erros e omissões nas contas do Grupo. Aconteça o que acontecer no processo que corre na Justiça, há provas mais do que evidentes sobre a responsabilização dos donos e senhores do BES. Sabiam de muita coisa, participaram em muitas omissões e defende, como se vê, até à morte a inocência maldita. O resto, bem, o resto que a nova Justiça que por aí anda faça o resto. Se for capaz e se quiser.

*Crónica de 15 de Dezembro, Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.

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