Estado Bom e Estado Mau. Uma questão de escolha.


Esta podia ser uma crónica intitulada Estado Bom e Estado Mau, numa espécie de analogia com o caso BES e o Banco Bom e o Banco Mau. E as semelhanças podem até ser assustadoras. Na verdade, o Estado, na forma prática e efectiva como o conhecemos, revela-se na maioria das vezes Mau. Todos nos queixamos, regularmente do mau funcionamento das instituições, da lentidão dos serviços, da forma como somos atendidos e dos longos anos em que correm no sistema os nossos problemas. Da Justiça à Saúde, das Finanças à Segurança Social, são infindáveis os exemplos, não só os que conhecemos, os nossos próprios casos, como aqueles que vamos sabendo através da comunicação social. Pois bem, não há só um Estado Mau. Há o outro lado da moeda, a face do Estado Bom, que, quando funciona, nos deixa a todos maravilhados. E porquê maravilhados? Porque, verdade seja dita, não estamos habituados a tamanha eficácia quando o assunto se chama serviços públicos. Recentemente tive três casos com o Estado português em que na guerra cidadãos versus sistema, venceu o Estado bom. Sem entrar em pormenores, partilho convosco, caros ouvintes, uma conclusão que há muito desconfiava. Começo a não ter muitas dúvidas de que somos nós, cidadãos e contribuintes, que podemos mudar o lado Mau deste tal Estado que tantas e tantas vezes nos aborrece. Como? Não desistindo. Reclamando. Suando, se preciso for, e levando ao limite as nossas forças no esforço pela reposição de direitos enquanto cidadãos. Os casos de que falo passaram-se em serviços da Segurança Social, no Serviço Nacional de Saúde e na Justiça. E, se em dois deles, a resiliência venceu sem problemas de maior, outro houve que infelizmente colocou a nu fragilidades que nunca, em 40 anos de democracia, decerto foram avistadas. O problema do Estado, a quem devemos reclamar o que é nosso, por direito, é que não está habituado a ser confrontado, a ser colocado entre a espada e a parede, e, acima de tudo, não convive bem como a incompetência colocada à vista do sistema. Uma coisa é certa, se não desistirmos de corrigir o lado negativo do sistema, é certo que estamos a contribuir para ter um Estado bom. E aqueles que pensam que esta é uma função que compete apenas a Governos e políticos, desenganem-se! Somos nós, no terreno, as peças fundamentais para evitar abusos, para obrigar agentes e sistema a serem cada vez mais exigentes, a serem cada vez mais competentes. É uma escolha só nossa e de cada um. Que agrega paralelamente deveres. E será a escolha ou não de o fazermos, que determinará a mudança e fará a diferença entre o Estado bom que queremos que vingue e o Estado Mau que queremos destruir. Haja vontade!


* Crónica de 26 de Janeiro, Antena Livre, 89.7, Abrantes.

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