A efémera explosão da revolta.
Sou filha e irmã
de polícias. Ambos agentes da PSP. Um no ativo, o outro no descanso merecido da
reforma, depois de 40 anos de trabalho árduo. Não venho, por isso, com este
texto, em defesa das forças policiais nem muito menos dos delinquentes que por
aí andam numa espécie de deambulação marciana. Não tinha intenções de escrever
sobre os acontecimentos dos últimos dias em matéria de violência envolvendo
agentes das mais variadas hierarquias da PSP. Primeiro, por questões de natureza
pessoal, e, em segundo lugar, por razões de ordem profissional. Conheço, melhor
que muitos (e acrescento, muitos jornalistas também) a realidade das forças de
segurança deste país. E, o que tenho lido e assistido nas redes sociais, é um rastilho de ódios desnecessários sem saberem sequer do que estão a falar. A violência, essa,
já a condenei, e partilho da opinião unânime de milhares de portugueses no
famoso caso de Guimarães. O que me choca é o impacto que estas notícias causam
na opinião pública. O que me causa tristeza são as generalizações e a repetição
mimética de condenação de um ato miserável de um profissional de polícia ante
um filho, um pai e um avô, confundidas com o assassínio, na praça pública, de
uma classe que, tal como todas, tem bons e maus profissionais. Ao contrário do
que muitos (não) dizem, também vi, no Marquês de Pombal, atos menos próprios por
parte de um agente da PSP, condenável, miserável. É assustador perceber o
efeito de ciclo em crescendo da violência que as redes sociais, nomeadamente o
Facebook, provocam nas sociedades atuais. Esta semana é o caso de Guimarães, na
semana passada a violência entre jovens, para a semana outras situações virão. As televisões e restante comunicação social farão o favor de ajudar nisso (e chega a um ponto que já não é informação é pisar e incendiar ainda mais). Mas, tal
como os casos, também estas revoltas são efémeras, está mais do que provado. Hoje temos agentes
de segurança execráveis, só porque um agiu mal e será (espero eu) sancionado e
severamente punido por isso. A floresta é pois toda incendiada só porque um
ramo quebrou. É pena que todos os que hoje atacam uma classe inteira, só porque
um deles cometeu um erro grave, não parem um minuto para pensar em todos os
outros, os profissionais, que ganham miseravelmente, que arriscam a vida por todos
nós diariamente, pais de filhos, filhos de outros. Um homem (o de Guimarães, no caso) não merece manchar
uma classe inteira, merece sim deixar de fazer parte dela. E nós, ao contrário
do sentimento que hoje por cá lavra, precisamos mais do que nunca de sermos cada
vez mais ponderados sempre que falamos e escrevemos. Condenar sim, crucificar
na praça pública, é outra história. E nada bonita por sinal.
P.S. – Há muito
tempo que, por opção própria, deixei de entrar em debates (que tanto gosto) nas
redes sociais. Faziam-me mal, sobretudo pelos excessos e porque as pessoas
transformam-se naqueles espaços. É por isso que senti necessidade de fazer este
post. Apenas e só para desabafar e porque os meus colegas, amigos e família entendem bem estas linhas. Precisamente aqueles que são reais e não virtuais na minha vida. Fazem falta as maravilhosas conversas à moda antiga, que eu ainda tento manter e encaixar no bulício da vida diária destes agitados tempos. E eu, utilizadora de redes sociais, estou cada vez mais, de costas voltadas para elas a nível pessoal.
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