10 de junho, comunidades e onde até o simbolismo já conta pouco.
Esta semana o país comemora mais um 10 de junho,
dia de Portugal, Camões e Comunidades Portuguesas. Sempre fui emocionalmente apegada aos feriados
civis, aos que contam a história do meu país. E desde que sou jornalista que
esse apego se elevou. Nos últimos anos, com o clima que se vive na
sociedade portuguesa, perdeu-se um certo encanto em torno do simbolismo das
datas que contam a história de Portugal. Tirando o 25 de Abril e o 1.º de Maio, que ainda
comportam sonhos e esperanças, mais nenhum outro feriado atrai os cidadãos. Mas este 10 de Junho, em que os discursos
políticos se vão repetir, como sempre, sem consequências práticas, será o
último vivido por Cavaco Silva enquanto Presidente da República. Já ouvimos por aí que este ano o tema escolhido
por Cavaco para o tal discurso retórico será a juventude. Os jovens, esses
cérebros obrigados a emigrar porque cá dentro não há oportunidades para eles.
Os jovens, essa faixa empurrada por quem governa para longe do conforto
familiar e das estruturas que os suportam. Será, neste Junho quente de 2015, um Dia de
Portugal cada vez mais redundante, com palavras que defendem a necessidade de
«passar aos actos», onde se falará, decerto, da coesão social e da proteção aos
mais fracos. Pois bem, tudo isto ouvimos, repetido vezes sem
conta, de ano para ano. Tudo isto já nos cansa quando as vidas das
pessoas pioram a cada dia que passa, apesar de os mensageiros dizerem
precisamente o contrário. O adeus de Cavaco neste 10 de junho nao deixará
saudades. Falamos do mesmo Presidente que assinou por baixo de um Memorando que
destruiu a economia portuguesa e que ajudou a contribuir para o aumento do
desemprego. O mesmo que afetou os tais jovens que ao mesmo tempo se defendem. Há muito que Cavaco caiu na demagogia total. Há
muito que todos sentimos que Portugal vive órfão de Presidente. O mesmo que
jurou ser o Presidente de todos os portugueses. A História tem memória e nós cá
estaremos para a recordar quantas vezes for preciso.
*Crónica de 8 de junho de 2015, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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