Saúde. Há os doentes de primeira e os outros.



Todos sabemos que se há setor que sofreu, e de que maneira, com a crise económica, foi a Saúde. Na semana passada, ficamos a conhecer um estudo que revelou que o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, está envolto numa teia de interesses e de lealdades a partidos políticos, à maçonaria e a organizações católicas. O retrato que abrange os anos de 2012 e 2013 traça um cenário negro da instituição onde se cruzam os interesses públicos e privados de «grupos poderosos», nomeadamente na classe médica e na direção de serviços de apoio, que condicionam o funcionamento dos serviços a nível de recursos humanos e aquisição de material clínico. O diagnóstico era ainda pior há dez anos, em que, de acordo com o estudo, «a situação estava fora de controlo, não havendo registos de utilização do equipamento e verificando-se roubos regulares, por parte de médicos e de outro pessoal, que se serviam a seu bel-prazer dos armazéns do hospital para fornecer as suas clínicas privadas». Prática comum parecem continuar a ser ainda hoje pequenos atos de corrupção como, por exemplo, «troca de favores, fazendo passar à frente, nas listas de espera, amigos e familiares, e médicos assistentes que canalizam os pacientes que têm de fazer análises para laboratórios privados dos quais são sócios». Ora com os cortes que fizeram mossa na Saúde pública, em prestações a famílias sem capacidade económica, pergunto-me com que moralidade e decência o atual Governo insiste em pactuar com uma situação vergonhosa destas. Um Estado de bem, mesmo que austero, tem a obrigação de acabar com este estado de coisas. Mas pelos vistos a prioridade é proteger os corruptos e abandonar as franjas da sociedade que precisam dele. É este país que revolta. É este país que não faz sentido. É por tudo isto que se morre nos corredores dos hospitais públicos. E um dia vão querer corrigir o mal e será tarde. Muito tarde.

*Crónica de 1 de Junho de 2015 na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR








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