Acordos de regime. O imperativo que se exige!


Agora que já estamos oficialmente em campanha, e olhando para o que se passou na pré-campanha, percebemos o que espera o eleitorado interessado nas próximas duas semanas. Nunca acreditei em sondagens. Primeiro por razões políticas ligadas aos centros de sondagens que as executam, e depois porque nestas coisas de partidos e votos, a abstenção é sempre quem ganha no final, desfazendo contas e mais contas que entretanto se fizeram. Até ao momento, como já aqui o disse há umas semanas, há uma clara surpresa chamada Catarina Martins. A porta-voz do Bloco de Esquerda foi a única candidata que trouxe um espírito novo, uma lufada de ar fresco necessária, sobretudo, para compensar os discursos moídos e redundantes dos partidos de poder. O Bloco precisa tremendamente de mais votos e mais deputados na Assembleia. Depois dos altos e baixos, Catarina parece estar a trazer o partido à tona. Mesmo que não aconteça, ela é já uma verdadeira surpresa, pela positiva, nestas eleições. No lado oposto, António Costa tem deslizado à medida que os dias avançam e que os debates prosseguiram. O secretário-geral do PS tem mostrado algumas fragilidades dignas de principiantes. Costa tem experiência política, de bater de terreno, por isso, não se entende que se coloque a si mesmo em posições frágeis e quando há uma coligação de direita que assinou por baixo da Troika. E começa a cometer erros que lhe podem ser fatais. Primeiro com a recusa em dialogar sobre as pensões com a maioria PSD/CDS-PP, e depois ao radicalizar o discurso, garantindo que se a coligação vencer sem maioria, o PS chumbará o Orçamento do Estado para 2016. Basicamente, no que depender de António Costa, a situação do país poderá ficar muito complicada se o PS perder. E as contas do país também. Dois exemplos que podem ditar ou não o futuro de Costa. Porque há coisas que em política se podem pensar mas não dizer em certas circunstâncias. Se a tudo isto acrescentarmos que uniões com o PCP e Bloco estão longe dos intentos de António Costa, das duas uma: ou o PS suaviza o discurso ou esta campanha pode não lhe correr tão bem como se espera. Sem acordos de regime não há país que aguente. Sobretudo em matéria de Orçamento, Segurança Social e impostos. E isso pode dizer muito do homem que diz ser melhor que todos os seus adversários.

*Crónica de 21 de setembro na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.

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