Costa versus Passos: a ideologia deu lugar à técnica.
Era
considerado «o debate dos debates». O momento em que os portugueses teriam a
oportunidade de ouvir os dois homens que se candidatam a primeiro-ministro de
Portugal. Histerias à parte (da comunicação social, dos apoiantes de cada um e das redes sociais), António Costa e Pedro Passos Coelho defraudaram
os eleitores. Cada um à sua medida, não soube, a meu ver, convencer quem, deste
lado do écran, procura respostas para os seus problemas diários. Se o
secretário-geral do PS descolou de uma certa apatia que lhe vinha sendo hábito
(com algumas tiradas e argumentos que encostaram Passos), certo é que
não houve um só momento em que cada um deles tivesse firmado, com afinco,
soluções para os problemas reais de todos nós. É curioso que, desde que a
Troika por cá entrou, o debate ideológico (que nos mostrava as diferenças reais em temas estruturais do país) deu lugar a debates técnicos, entre
números, estatística e «chavões» que o povo, esse, que vota, não entende. Costa
ganhou terreno, mesmo com o tal fantasma à mistura (Sócrates) que tantos
jornalistas e tanta gente queriam ver. Passos escusava de ter «ido por aí». Não
será dessa forma que ganhará o combate e dificilmente a coligação sairá deste
limbo se continuar a manter os argumentos de que «tiveram de fazer o que tinha
de ser feito». Ao fim de quatro anos de destruição social (salários, serviços
públicos e qualidade de vida das pessoas) temos dois homens que simbolizam mais
do mesmo e de sempre: lutas pelo poder ao centro e sem comprometimentos de
maior. Não entrarei na conversa de «quem ganhou o debate» (as redes sociais, os
comentadores e a imprensa de hoje fazem-no na perfeição), porque, quando, num
debate onde não houve uma palavra para a Educação, a Justiça e a Segurança (pilares
de um Estado de Direito e que é preciso pagar todos os dias) não merece sequer
comentários de maior. Não me alongarei porque ainda regressarei ao tema na
próxima semana. Mas não posso deixar de notar que, para quem está indeciso, não
foi o momento de ontem que decidirá rigorosamente nada. As pessoas precisam de
respostas concretas, precisam de verdade e de encorajamento por parte de quem
nos governa. António Costa, em quem depositei esperanças depois da guerra civil
interna no Largo do Rato, continua longe de se afirmar como um verdadeiro líder
capaz de ser melhor que Passos Coelho. Veremos como lhe corre a campanha e do
que será capaz. Mas há uma pergunta que me assola: sem uma maioria absoluta
como irá governar Costa um país com a estabilidade que precisamos? Talvez tenha
chegado a hora de o PS pensar seriamente nas alianças que sempre desprezou à sua
esquerda. Para bem do país, para bem da governação, para que possamos ter
esperança no futuro. A social-democracia é a única que ainda os une (esquerda e direita), ainda que com discursos de retórica diferentes. Valerá o desespero de quem vota. Valerá o voto no dia 4 de outubro. E esse será o momento maior destas eleições: a escolha livre e democrática de cada um de nós.
NOTA: Lamentável a prestação de três jornalistas (considerados pelos pares como «os melhores da praça») num debate onde os candidatos foram constantemente interrompidos com afirmações e perguntas arrogantes. Algumas delas até a roçar o ridículo. Com tanto tema a precisar de esclarecimento, como referi anteriormente, «arrepende-se de alguma coisa?» é mau demais para ser verdade. Se aquilo era a «surpresa» de que falava Clara de Sousa antes do debate, estamos conversados em matéria de alinhamento do mesmo. Paupérrimo. Tenho esperança para o debate das rádios a 17 de setembro....
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