Médicos de família em Portugal? Uma miragem.




Num momento em que o país debate argumentos para as eleições que se avizinham continua a ser criminoso o foco dos candidatos a primeiro-ministro. Da esquerda à direita. Sem exceção. O mais importante, no campo de batalha político-partidária, tem sido as culpas deitadas, para um e outro lado da barricada. Culpas em relação ao passado, aos números e um sem fim de assuntos de campanha que apenas interessam aos políticos que aí temos. Na verdade há problemas reais, que vão muito além dos números, e que dizem respeito às pessoas. E esses é que gostávamos de ouvir por essa estrada fora. Esta semana quero falar num dos mais dramáticos problemas que se agudizou com a entrada da Troika no país em 2011. Falo da Saúde e em particular dos médicos de família e do direito que, todos nós, temos a ter um. Na verdade, nem todos somos cidadãos IGUAIS perante a Lei. Se o fôssemos todos os portugueses teriam um médico de família. Em Portugal mais de um milhão de pessoas não tem médico de família, sendo que dados recentes revelam que um em cada três utentes residentes em algumas regiões não tem médico, e numa altura em que cada vez mais pessoas procuram os centros de saúde. Entretanto nas regiões mais populosas, como Lisboa e Porto, é dramático o número de utentes que cada médico de família tem a seu cargo. Em muitos casos, são aos milhares. Se um dos objetivos primordiais da função de médico de família passa por um papel de proximidade com os utentes, identificando-se, muitas vezes, os efeitos da crise nas famílias portuguesas, na verdade os cortes cegos esqueceram a extrema importância deste assunto. A sangria de recursos no Serviço Nacional de Saúde, digam o que disseram, está a matar um país. E é bom recordar, agora que estamos em tempo de propaganda, que o sistema de Saúde português era descrito no programa do PSD, em 2011, como «disfuncional (...) provocando congestionamentos e desperdícios». Os sociais democratas iam ainda mais longe, dizendo que «a oferta não era equitativa geograficamente eram crescentes as desigualdades em termos de capacidade de acesso». Há quatro anos o PSD prometia disponibilizar «cuidados de saúde de boa qualidade» aos portugueses. Olhando para os tais números e para as tais promessas, não é preciso muito palavreado para perceber para onde nos conduziram. Temos um Serviço Nacional de Saúde que atualmente nega às pessoas o acesso universal e tendencialmente gratuito aos cuidados de saúde. Entretanto, a campanha eleitoral segue dentro de momentos.

*Crónica de 31 de Agosto, Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.





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