Estabilidade do país nas mãos do futuro Presidente.
O país,
chamado a votos, quatro anos depois de uma austeridade sem precedentes,
escolheu. Escolheu dar
ao PSD e ao CDS uma maioria relativa. Seria, à partida, de esperar que a
coligação perdesse em toda a linha estas eleições. Mas não foi isso que aconteceu. E há, na
minha opinião, algumas razões para este desfecho. Primeiro, porque apesar da
dureza que todos nós sentimos na nossa vida, os portugueses optaram por um mal
menor, e não arriscam dar luz verde a novos festins, à boa moda de tempos idos. Contudo, a
vitória de Pirro da coligação é mais demérito do PS e de António Costa do que
mérito de Passos e Portas. António
Costa nunca teve um rasgo, nunca conseguiu galvanizar as pessoas fora do
eleitorado tradicional do Largo do Rato. Dececionou e perdeu muitos indecisos
quando radicalizou o discurso e disse categoricamente, em plena campanha
eleitoral, que vetaria o próximo orçamento de Estado para 2016. Do lado oposto,
Passos e Portas perceberam que um discurso suave e um posicionamento moderado
ajudaria e muito a conquistar terreno ao centro e ao PS. Resultou, como se viu. Costa, de
quem muitos portugueses esperariam uma firme e forte voz de combate e uma nova
forma de estar na Política, defraudou. A juntar a tudo isto não conseguiu a
proeza de se alinhar ao lado da CDU e do Bloco. Pelo contrário ajudou à divisão
tradicional e histórica que os caracteriza. E foi por tudo isto que falhou
redondamente. Temos um
futuro incerto pela frente. Um Governo de maioria relativa e que precisará de
suar muito para viabilizar muitas medidas na Assembleia da República. A
Oposição terá aqui um novo papel, provavelmente com um objetivo claro:
obstaculizar a frágil governação que saiu destas legislativas. O futuro não
o sabemos. Mas um país que empobreceu nos últimos anos, que tem uma taxa de
desemprego elevadíssima, com cortes e impostos acentuados e com tanta gente
emigrada e com níveis de pobreza preocupantes, não pode dar-se ao luxo de
continuar a ser irresponsável na governança de um país que precisa de crescer
sustentavelmente. António
Costa tem muito para refletir. Passos e Portas também, já que juntos obtiveram
um resultado muito fraco e que demonstra bem o sentimento nacional em relação
ao passado, presente e futuro. A batata
quente que resulta deste 4 de outubro estará definitivamente nas mãos do
próximo Presidente da República. Seja ele
quem for, não vai ter uma vida fácil. Talvez Jorge
Sampaio e Pedro Santana Lopes, por experiência própria, possam dar uns
conselhos ao futuro sucessor de Cavaco em Belém.
*Crónica de 5 de outubro, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
Comentários