Carta aberta a uma funcionária pública.



Antes de explicar ao que venho, faço, desde já, uma nota prévia. Tenho, ao longo da minha vida, muitas experiências na minha relação com o Estado, um pouco como todos vós. Umas boas, outras assim-assim e outras más. Porém, admito que têm sido, felizmente, mais as boas que as péssimas. Olho para os funcionários públicos, na minha amostra pessoal, como sendo, a sua maioria, competente e capaz. Contudo, hoje lá veio a primeira mancha de 2016. A história que irei partilhar/ou desabafar (como queiram) convosco, passou-se esta tarde na Segurança Social (SS), em Lisboa. A única coisa que irei omitir é a identidade da funcionária que me atendeu. Em nome da privacidade que (me) merece. 
Reza assim a história. No início de dezembro de 2015 comecei a ligar para a SS para agendar marcação pessoalmente, coisa aliás que, em Lisboa, há muito assim é. Foram necessárias três semanas, ligando mais do que uma vez ao dia, para que me atendessem a chamada no número verde da entidade (300 502 502). Conclusão: só no final de dezembro me atenderam e agendaram a reunião para dia...18 de janeiro de 2016. Adiante, que a história melhor vem a seguir. Hoje, lá estava eu, à hora marcada (15h40), para o meu atendimento. Quase uma hora depois, chamaram-me. E aqui começa a história surreal com a dita funcionária que me coube. Além do mau humor, do tom que punha em cada frase que me proferia, gostei logo, assim para começar, da abordagem [nem "Boa tarde", nem coisa que o valha]. «Identifique-se», atirou-me, assim, como se fosse um polícia. Disse-lhe o meu nome e o meu número de SS. Resposta: «sim, isso é tudo muito bonito mas se a senhora for do Estado Islâmico como é que eu vou saber?». [Oi? Então não é que se vê logo que eu tenho cara de terrorista? Que coisa!]. Neste momento, e ao mesmo tempo que retiro  o Cartão do Cidadão da carteira, penso: «isto vai acabar mal». Tinha três questões para colocar, dúvidas que levava bem definidas no meu bloco de notas. Em todas elas, a dita funcionária respondia-me como se eu soubesse as respostas, com mau humor e a roçar a má educação. É certo que eu também sei utilizar termos técnicos (é uma chatice quando temos que nos informar, pelos nossos próprios meios, sobre questões laborais, cálculos de pensão e afins), e talvez isso a tivesse aborrecido e aumentado o tom com que me atendeu. Adiante. A esta senhora, que por razões de respeito pela sua identidade (mas que ficou bem vincado no Livro de Reclamações) não irei revelar o nome, eu tenho apenas isto para lhe dizer:

- A senhora é funcionária pública e certamente conta os dias para que chegue a sua merecida reforma. Pensão essa para a qual eu e milhões com eu, como manda a renovação geracional, trabalham para lhe a pagar no futuro. 

- A senhora terá filhos e netos (ou pode vir a ter) que um dia irão precisar do Estado e, decerto, que moveria montanhas para que os tratassem dignamente, como merece qualquer cidadão deste país.

- A senhora deverá ter problemas - profissionais e pessoais - como todos nós temos, claro, mas gere muito mal a separação das águas, não tem um pingo de ética e muito menos deveria estar num balcão de atendimento ao público. Sensibilidade, bom senso e profissionalismo são coisas que não a movem. 

- A senhora merece que o seu chefe ou o seu diretor façam algo por si, porque um funcionário com as suas características não tem condições para estar no lugar onde está e merece apoio, em todos os sentidos.

- A senhora, que tem idade para ser minha mãe, não aprendeu as melhores lições de boas maneiras e educação que, certamente, os seus pais lhe passaram e que se envergonhariam se fossem tratados como a senhora recebe os utentes, os mesmos que ajudam a pagar o seu salário.

- A senhora é preconceituosa quando se acha menor do que o utente que sabe falar a sua linguagem.

- A senhora merece ser feliz, e espero que o seja, mas jamais poderá um dia, dizer, que tratou, como merecem os cidadãos e contribuintes que lhe chegam às mãos.

- A senhora personifica, em pleno, o lado negro de um Estado que se acha superior a todos aqueles que o sustentam: nós, contribuintes. 

Disse. 

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